Na minha deambulação diária pelo blogue de Eduardo Pitta "Da Literatura" – o qual tenho o prazer de ler, embora estejamos política e geograficamente em pontos opostos –, tomei o conhecimento, através do seu último texto, da existência de uma revista semestral editada pelo Núcleo de Jornalismo Académico do Porto de nome “aguas furtadas”.
Ora, sendo eu um portista portuense de gema, de razão e coração, nunca tive o prazer de me cruzar com essa ilustre desconhecida, nem que fosse nos inúmeros escaparates da Invicta.
Através de uma simples e curta pesquisa na rede descobri que o sítio do Núcleo está de momento inacessível – provavelmente em fase de remodelação –, porém a revista poderá ser adquirida através do sítio da lendária e quase quarentona Livraria Leitura – sim, essa mesmo, aquela da esquina da Rua de Ceuta com a José Falcão!
Aviso: a partir deste ponto o autor usará uma linguagem de índole profundamente bairrista, susceptível de ferir por apedrejamento verbal a clique que defende que somos o bastião do provincianismo português – como se não fôssemos todos!
Conforme avisou Eduardo Pitta o nome da revista escreve-se em minúsculas e sem acento agudo na primeira palavra: “aguas furtadas”.
Como me parece evidente, qualquer leigo – como é o meu caso – transformará, por instinto corrector, o título da revista em “águas-furtadas”. Ora, é precisamente aí que reside o problema.
Excluindo os dois tipos de migrantes que aqui nasceram – (1) o que se diz mais portuense que os portuenses residentes e (2) o que renega, como Pedro, a sua origem, imitando ridiculamente a pronúncia lisboeta – um portuense nado e criado no Porto não conhece, ou melhor despreza a expressão “águas-furtadas”, porque aqui esse espaço que medeia o piso superior da habitação e o telhado chama-se “sótão” – curioso que para alguns “sótão” é uma espécie de cave, tal como para os espanhóis é sótano.
Eventualmente, poderei estar a cometer um erro colossal, mas o meu processo de aculturação ontogénica portuense assim mo ensinou.
Sinceramente, aguardo que alguma alma caridosa me esclareça, em jeito de Ciberdúvidas, esta perplexidade existencial.
Aviso Segundo: cuidado! Use de muita precaução na leitura da parte que se segue, o autor perdeu por completo o sentido de decência, que se poderá resumir por um profundo estado de bairrismo patológico.
Serve o que acima foi dito – evidentemente acima daquele aviso idiota – para confessar que estou farto de ler literatura traduzida com as seguintes expressões:
- Chapéu-de-chuva – não será preferível dizer guarda-chuva;
- Encarnado – (idem) vermelho;
- Lava-loiça – (idem) pia ou então banca;
- Casa de banho – (idem) quarto de banho (esta confesso que é mais discutível);
- Bica – (idem) café (não, não digo cimbalino!);
(…)
Aviso e súplica: neste momento o autor deste texto perfeitamente deplorável acaba de ser amarrado a uma cama e… Perdoai-lhe Senhor a bipolaridade! Evitai, por favor, que este acto conduza a resultados trágicos para esta já fragilizada blogosfera com o problema do “tamanho das pilas de direita” e da “endogamia dos críticos literários”. Ámen.
2 comentários:
É uma luta interessante: o tamanho das pilas versus o-meu-ego-é-maior-do-que-o-teu.
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