sábado, 28 de maio de 2011

Odisseia Malickiana

Não. Não vale a pena interpretar o que não se expôs para ser interpretado. Será a apreciação uma forma depurada da inevitável interpretação? Não me apetece ir por aí, nem tão-pouco entrar em considerações teosóficas sobre, se me é permitido, a mundividência transcendentalista de dois contrários:
«Father, Mother. Always you wrestle inside me. Always you will.»
Fiat lux. E após 90 minutos de projecção a sala estava a metade. Já nem nos importamos com o belo e com uma conjecturada harmonia, em nome da diversão imediata. É uma pena… que me tenham interrompido o delírio com a vossa indiferença. É só isso.
A alusão no momento crítico à 4.ª Sinfonia de Brahms… E o omnipresente, na nossas cabeças formatadas pelo marketing da coisa, 2.º Poema Sinfónico de A Minha Pátria de Bedrich Smetana, (o rio) “Moldava” (T 111, “Vltava”, 1874), são instantes de um todo… sublime?
Arrepio-me

[Sobre A Árvore da Vida (The Tree of Life, 2011), de Terrence Malick]

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Tinha perdido a magia

E como num estranho processo de contágio, porventura um exercício deliberado de auto-recriminação em forma de novela, Roth transpôs o fracasso de Simon Axler para a luta encarniçada, que referia numa entrevista recente, de Philip, o escritor, até alcançar a obra: o tal abatimento pós-escrita.
Não é que não se sinta aquela voz impulsiva e obstinada com que nos permitiu, felizmente, captar a sua criatividade, que julgáramos infinita, ao longo da sua espantosa obra. Mas esses, os deuses, também falham. E o libidinoso grotesco que Roth maneja como ninguém, é mesmo neste caso liminarmente grotesco e artificial, como o falo verde de látex, de onde o nosso espírito, por mais indulgente que seja e mesmo com arnês, já não consegue fugir até ao pretendido pathos tchekhoviano final, puerilmente falhado.
[Sobre A Humilhação]

sábado, 21 de maio de 2011

Novas Oportunidades

Pode-se maldizer o programa, porém é um facto, este país mudou. Pode ser leviano apontar-se-lhe a frivolidade na demanda pelo santo grau, mesmo que os cavaleiros oportunistas não alcancem o seu sentido prático, ou melhor, a sua exequibilidade na vida deteriorada de cada lar que recebe um papel em letra de forma para emoldurar junto à reprodução da ágape primordial do famoso fresco de Da Vinci. E o Menino da Lágrima não se lembrou… seria melhor não desprezar as suas qualidades de vedor de lençóis freáticos carregados de auto-elogio.
Prosseguindo. Como uma erupção magmática, ao Menino da Lágrima veio-lhe à ideia o fenomenal furo propagandístico, logo arrefecido pela recordação ressentida de velhas querelas em Verão quente: não há um único dia que o Público não esgote nos hipermercados Continente. Lemos mais, estamos mais cultos, já sabemos escrever Pisa sem dois “z’s”.
Perante pilhas de jornais Record, dois ou três exemplares de quatro ou cinco títulos, dei por mim a afagar o frio metal do escaparate, arrepiando-me pela confirmação da longa ausência do Público, hoje com Ípsilon. Esbocei um grito. Mas, de repente, fui assolado por um vórtice de emoções de sinais contrários difíceis de transcorrer para estas linhas em hipertexto – o profundo pesar pelo companheiro das sextas-feiras perdido e a indescritível exultação pela constatação de que nos tornámos num povo mais letrado, mesmo que seja para acender os fogareiros na Avenida da Liberdade da erudita Capital no megapiquenique com o Carreira (e o apelido até vem a propósito).
Eram duas as lágrimas: apenas ficou a invisível contrafeita activada pelo testemunho veemente e iracundo do torneiro mecânico pós-doutorado em quinze dias, ditando, sem vacilar, a narrativa do regime na barraca do Sr. Engenheiro, o nosso mestre das oportunidades.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

De uma vida (auto)esventrada em blogues e redes

«Se revelares tudo, puseres a nu todos os sentimentos, implorares compreensão, perdes uma coisa crucial para a tua percepção de ti mesmo. Precisas de saber coisas que os outros não saibam. É o que ninguém sabe acerca de ti que te permite conheceres-te a ti mesmo.»
Don DeLillo, Ponto Ómega, p. 70 [Porto: Sextante, 1.ª edição, Março de 2011, 121 p.; tradução de Paulo Faria; obra original: Point Omega, 2010.]

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Sem (muitas) mais palavras


Já vencemos, já vencemos,
Vencemos outra vez.
O Porto ganhou a taça,
Como em 2003.
(cântico modificado nos seus tempos verbais dada a concretização) 


PPS – A constatação pela sintonia perfeita (futura) entre a choraminguice final, (devido a um cartão que, aventou, ficou por mostrar ao filho dos Cárpatos ao 75 minutos, palavras insanas proferidas, demonstrando uma soberba inusitada, que decerto se traduziria num golo marcado) e o clube que representará e que dela vai fazendo hino todos estes anos de deserto.

PPPS – Aos 30 minutos de jogo o nosso super-herói da Marvel (verde quando se enfurece), só se manteve em campo porque a ligação da alcunha à sua compleição física não é apenas um acaso. Um tal Sílvio, que no final do jogo se apressou a dizer que se irá acostar nos alvo-e-rubros colchoneros na próxima temporada, deveria ter jogado menos 60 minutos no verde de Dublin. A choraminguice esqueceu-se desse pormenor. Paciência!