domingo, 5 de fevereiro de 2006

Tenacidade no campo de batalha da literatura

Nasceu no dia 3 de Fevereiro de 1947 na cidade de Newark, Nova Jérsia nos Estados Unidos.
Viveu em França, onde sobrevivia com o parco sustento provindo da tradução de poemas de autores franceses para a língua inglesa. Esta aventura materializou-se na publicação bilingue – francês e inglês – da antologia poética denominada por The Random House Book of Twentieth Century-French Poetry, publicado por essa editora em 1 de Janeiro de 1982.
Com 37 anos tenta publicar o seu primeiro romance “City of Glass” – é a primeira parte do livro A Trilogia de Nova Iorque, publicado em Portugal pela Asa em Novembro de 1999, sob o nome de “Cidade de Vidro”.

O manuscrito foi apresentado para publicação a 17 editoras, todas o rejeitaram, algumas exigiam alterações profundas como condição para a eventual publicação.
O autor não cedeu, persistiu na dura batalha do meio editorial e apresentou-o pela 18.ª vez a uma editora sediada em Los Angeles, Califórnia, de nome “Sun & Moon Press” dirigida pelo poeta, dramaturgo e ensaísta David Messerli, que se comprometeu a publicar os restantes dois livros.
Como Messerli prognosticou, a obra foi um sucesso estrondoso, publicando-se de seguida as duas últimas partes que compõem a famosa Trilogia – “Fantasmas” e “O Quarto Fechado” –, mais tarde reeditada e publicada pela gigantesca editora Penguin.

«Foi uma chamada para o número errado que despoletou tudo, o telefone a tocar três vezes no silêncio da noite, e a voz do outro lado da linha a perguntar por alguém que não era ele».
Paul Auster, A Trilogia de Nova Iorque. Porto: Edições Asa, 3.ª edição, Outubro de 2000, pág. 9.


Paul Auster - City of Glass
Ele, Quinn, era um escritor de 35 anos amargurado e solitário, quando lhe perguntaram do outro lado da linha se era o detective Auster, Paul Auster e Quinn à terceira chamada equívoca prontificou-se a assumir o seu papel.

Depois de ter lido “O Correio da Lena” de João Pedro George no Esplanar, recordei-me deste paradigmático episódio que ocorreu com o – meu – gigante literário que dá pelo nome de Paul Benjamin Auster*. Logo, não me admira a rejeição do manuscrito anónimo, elaborado pelo trindadense, de ascendência indiana, naturalizado inglês e galardoado com Prémio Nobel da Literatura em 2001 V. S. Naipaul.
O mundo literário está povoado desses pequenos episódios, muitas vezes por mera distracção do editor, outras por manifesta falta de sensatez e de um espírito literário aberto e ousado, e outros ainda pelo lugar ocupado pela franja falaz do nepotismo.

Quantos manuscritos de eleição não terão sido metaforicamente queimados por esse mundo fora?

Nota: * para saber mais sobre a vida e a obra do autor consultar este sítio na Internet criado e mantido pelos seus fãs.

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