Agora mesmo, quando navegava na minha blogosfera de referência dei com um Estado Civil, de Pedro Mexia, profundamente divorciado dos sinais diacríticos da nossa língua: tis, cedilhas e acentos.
Alguém, por esse mundo fora, anda a boicotar o idioma de Camões. O mais curioso é que se for uma prática terrorista, certamente não será provinda do Islão, dada a posição do nosso mais recente Ayatollah, Freitas do Amaral!
Certo dia, alguém me afirmou que o som produzido pelo nosso idioma – português de Portugal – se assemelhava em muito ao russo, dada a excessiva quantidade de vogais mudas. Eu não só não refutei essa asserção, como a confirmei relatando a tendência natural do português bem-falante para fechar as vogais.
- A palavra “mestrado” deveria ter um “e” aberto, mas normalmente pronunciamo-la com “e” fechado;
- A terrível regra de eliminar o som de um “i” quando a palavra é composta por duas sílabas consecutivas que incluem essa vogal: ministro deve-se pronunciar “menistro”, difícil deve-se pronunciar “defícil”;
- As palavras alcoolemia e hipoglicemia não são acentuadas na antepenúltima sílaba, porque a sílaba tónica é a penúltima – palavra grave e não esdrúxula – o que convenhamos ajuda a enrolar mais a nossa língua;
- O plural da palavra líder, escreve-se “líderes”, passa de grave a esdrúxula, todavia o “e” da penúltima sílaba deve-se pronunciar fechado – eu pronuncio-o aberto, o que leva muita gente a crer que alterei a acentuação, coisa que não acontece de forma alguma.
Quando há algum tempo atrás iniciei a minha aventura espanhola, tive o cuidado de frequentar um curso intensivo de 20 horas da língua de Cervantes apenas devido ao vocabulário – já que todos os portugueses julgam saber falar castelhano, bastando para isso meter uns “i’s”, uns “u’s” ou uns “e’s” nalgumas palavras portuguesas, saindo autênticas obras-primas de fusão linguística como “españiol” (para español) ou “huera” (para hora). Nesse curso, e confesso a minha pretérita ignorância, aprendi que todas as letras do alfabeto espanhol se lêem sempre da mesma forma, sem excepção, onde todas as vogais se lêem abertas; o que torna a língua muito fácil e acessível, justificando, de algum modo, a sua rápida propagação como alternativa ao inglês universal.
Muito a propósito, deixo aqui um episódio verídico, ocorrido no norte de Espanha protagonizado por um hóspede português num hotel espanhol situado em pleno campo:
«O turista português, a meio da noite, verificou que a sua dificuldade em dormir se devia ao raio da torneira do lavatório no quarto de banho que não parava de pingar. O turista, furibundo, liga para a recepção para que o problema fosse resolvido, e diz, no seu melhor espanhol:
– Por favor, tengo un problema en mi… ¡Hay una ternera que pinga! – diz resolutamente.»
Diz quem assistiu que, em plena madrugada, alguns funcionários do hotel andaram num perfeito alvoroço à procura de um “vitelo pingante” que, alegadamente, vagabundeava pelos quartos do hotel. Só acalmaram quando entenderam que o que pingava era um “grifo” e não uma “ternera”.
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