Após uma primeira leitura destaco dois textos: «BORIS VIAN, le jazz est dangereux» e «Mais Boris Vian».
Para quem não conhece um dos expoentes literários da patafísica – a ciência das soluções imaginárias, criada por Alfred Jarry – não irei desvendar absolutamente nada sobre os seus livros, uma vez que, há uns anos, o prazer da descoberta da sua leitura revelou-se-me como uma marca inexpugnável de encantamento pelo absurdo.
Do inventor do Julhembro ou do Dezarço (meses do ano), do melodioso e inebriante Pianocktail, da inconversível divisa chamada Dobrazão e dessa máquina letal e tenebrosa de nome arranca-corações, recomendo, para início de exploração literária, os livros “A Espuma dos Dias” (L'écume des jours, 1946), “Outono em Pequim” (L'Automne à Pékin, 1947), “O Arranca Corações” (L'Arrache-cœur, 1953) e “Irei cuspir-vos nos túmulos” (J'irai cracher sur vos tombes, 1946), este último publicado sob o seu pseudónimo americano Vernon Sullivan.
Apenas deixo aqui ficar o admirável prólogo de “A Espuma dos Dias” escrito por Vian a 10 de Março de 1946 em Nova Orleães:
«Na Vida, o essencial é fazerem-se juízos a priori sobre tudo. Com efeito as massas erram, como é evidente, e os indivíduos têm sempre razão. A tal respeito, é forçoso abstermo-nos de deduzir regras de conduta: para serem seguidas não devem ter necessidade de ser formuladas. Só existem duas coisas: o amor de todas as maneiras, com raparigas belas, e a música de Nova Orleães ou Duke Ellington. O resto deveria desaparecer, porque o resto é feio, e as poucas páginas de demonstração que seguem extraem toda a sua força ao facto de a história ser inteiramente verdadeira, já que a imaginei de uma ponta à outra. Na essência, a sua realização material propriamente dita consiste em projectar a realidade numa atmosfera oblíqua e aquecida sobre um plano de referência irregularmente ondulado e que revela distorção. Como se vê, um processo confessável, se algum houver.»
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