Intróito
Na minha modesta opinião é a obra-prima de Auster, e desde logo com o seu primeiro romance que resulta da compilação de três histórias que falam de Nova Iorque, que dela vivem e que só nela poderiam ocorrer.
É a génese (faça-se a luz) do efabulador e analista do acaso, que é transversal a toda a sua vasta obra.
«Foi uma chamada para o número errado que despoletou tudo, o telefone a tocar três vezes no silêncio da noite, e a voz do outro lado da linha a perguntar por alguém que não era ele. Muito mais tarde, quando foi capaz de pensar nas coisas que lhe aconteceram, concluiria que nada era real excepto o acaso. Mas isso foi muito mais tarde. No início, houve apenas o acontecimento e as suas consequências. Não se trata de uma questão de tudo poder ter acontecido de um modo diferente, ou de tudo estar predestinado desde a primeira palavra proferida pela boca do interlocutor desconhecido. A questão é a história propriamente dita; e se tem ou não algum significado, não é à história que compete revelar isso.»
Paul Auster, “Cidade de Vidro”, em A Trilogia de Nova Iorque, Asa, 3.ª Edição, Outubro de 2000, pág. 9
[Tradução de Alberto Gomes] (City of Glass, 1985; The New York Trilogy, 1987)
«Antes do mais há o Blue. Mais tarde virá o White, depois o Black, e antes de começar há o Brown. Brown domou-o, ensinou-lhe o ofício, e quando Brown envelheceu, Blue substituiu-o. É assim que começa. Passa-se em Nova Iorque, nos tempos presentes, e nenhum destes aspectos alguma vez mudará. Blue vai todos os dias para o seu escritório e senta-se à sua secretária, à espera que aconteça alguma coisa. Durante muito tempo nada acontece, mas depois um homem chamado White entra pela porta, e é assim que tudo começa.»
Paul Auster, “Fantasmas”, idem, pág. 141
Idem (Ghosts, 1986; The New York Trilogy, 1987)
«Parece-me agora que Fanshawe esteve sempre lá. Ele é o sítio onde tudo começa para mim, e sem ele dificilmente saberia quem sou. Conhecemo-nos antes de sabermos falar, bebés a gatinhar de fraldas pela relva, e quando tínhamos sete anos de idade já havíamos picado os dedos com um alfinete para nos tornarmos irmãos de sangue para toda a vida. Sempre que penso na minha infância, vejo Fanshawe. Era aquele que estava comigo, aquele que compartilhava dos meus pensamentos, aquele que eu via sempre que levantava os olhos de mim.»
Paul Auster, “O Quarto Fechado”, idem, pág. 201
Idem (The Locked Room, 1986; The New York Trilogy, 1987)
Na minha modesta opinião é a obra-prima de Auster, e desde logo com o seu primeiro romance que resulta da compilação de três histórias que falam de Nova Iorque, que dela vivem e que só nela poderiam ocorrer.
É a génese (faça-se a luz) do efabulador e analista do acaso, que é transversal a toda a sua vasta obra.
«Foi uma chamada para o número errado que despoletou tudo, o telefone a tocar três vezes no silêncio da noite, e a voz do outro lado da linha a perguntar por alguém que não era ele. Muito mais tarde, quando foi capaz de pensar nas coisas que lhe aconteceram, concluiria que nada era real excepto o acaso. Mas isso foi muito mais tarde. No início, houve apenas o acontecimento e as suas consequências. Não se trata de uma questão de tudo poder ter acontecido de um modo diferente, ou de tudo estar predestinado desde a primeira palavra proferida pela boca do interlocutor desconhecido. A questão é a história propriamente dita; e se tem ou não algum significado, não é à história que compete revelar isso.»
Paul Auster, “Cidade de Vidro”, em A Trilogia de Nova Iorque, Asa, 3.ª Edição, Outubro de 2000, pág. 9
[Tradução de Alberto Gomes] (City of Glass, 1985; The New York Trilogy, 1987)
«Antes do mais há o Blue. Mais tarde virá o White, depois o Black, e antes de começar há o Brown. Brown domou-o, ensinou-lhe o ofício, e quando Brown envelheceu, Blue substituiu-o. É assim que começa. Passa-se em Nova Iorque, nos tempos presentes, e nenhum destes aspectos alguma vez mudará. Blue vai todos os dias para o seu escritório e senta-se à sua secretária, à espera que aconteça alguma coisa. Durante muito tempo nada acontece, mas depois um homem chamado White entra pela porta, e é assim que tudo começa.»
Paul Auster, “Fantasmas”, idem, pág. 141
Idem (Ghosts, 1986; The New York Trilogy, 1987)
«Parece-me agora que Fanshawe esteve sempre lá. Ele é o sítio onde tudo começa para mim, e sem ele dificilmente saberia quem sou. Conhecemo-nos antes de sabermos falar, bebés a gatinhar de fraldas pela relva, e quando tínhamos sete anos de idade já havíamos picado os dedos com um alfinete para nos tornarmos irmãos de sangue para toda a vida. Sempre que penso na minha infância, vejo Fanshawe. Era aquele que estava comigo, aquele que compartilhava dos meus pensamentos, aquele que eu via sempre que levantava os olhos de mim.»
Paul Auster, “O Quarto Fechado”, idem, pág. 201
Idem (The Locked Room, 1986; The New York Trilogy, 1987)
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