Por diversas vezes, neste blogue, em caixas de comentários de outros blogues ou em meras conversas entre amigos, tenho-me referido ao estado actual de miséria latente e em rápida expansão da cidade na qual nasci, trabalho e habito, o Porto.
O Porto dos roteiros turísticos, do património da humanidade, do rio Douro – e doutros rios. O Porto como símbolo do orgulho exacerbado dos autóctones. A invicta e a mui nobre. A pátria da gente trabalhadora, dos prósperos burgueses e dos pedantes e/ou novos-ricos que se exibem na Foz do Douro. O Porto do Vinho, dos cimbalinos, do fino, das tripas, dos bolinhos de bacalhau, das francesinhas e das pataniscas. O Porto do aloquete, da sertã, dos magnórios, do “faz-me espécie”, do “aqui há atrasado”, do “ão” que é “om” e do “om” que é “ão”, do alfabeto de 22 letras porque a 21.ª de 23 é dispensável… O Porto das vogais abertas!
Mas o que é o Porto, hic et nunc?
Já não basta uma ode pomposa e afectuosa ao Porto Sentido, neste Porto (mal) Remediado!
É uma cidade deprimida, lúgubre, triste, esconsa, depauperada, abandonada.
O Porto de agora deprime-me, inquieta-me e revolta-me pela inépcia dos que o governam agora e dos que o desbarataram no passado. O Porto trampolim para ufanas e proveitosas carreiras políticas e empresariais com dinheiros públicos.
Hoje de manhã não houve excepção neste meu duro sofrimento; percorri a Praça Carlos Alberto, o Largo Moinho de Vento, as ruas de Ceuta, José Falcão, de Aviz, da Fábrica e horrorizei-me com as fachadas degradadas, os passeios sujos, o estado de abandono de alguns espaços comerciais, a elevada média etária dos que, àquela hora – a do meu café –, frequentavam o Diplomata; a Leitura vazia, o Ceuta irreconhecível ao longe.
Neste país de contrastes, deixo estes números publicados pelo Instituto Nacional de Estatística em 2004, referentes ao rácio EPPC – Estudo sobre o Poder de Compra Concelhio – média nacional per capita com base no índice 100:
- Concelho de Lisboa 277,93; que representa 14,68% do EPPC nacional;
- Concelho do Porto 198,48; que representa 4,78% do EPPC nacional.
(Fonte: INE – Estudo sobre o Poder de Compra Concelhio 2004)
Para terminar deixo aqui uma recomendação:
Ouvir o “Mel com Fel” de hoje de manhã na TSF com José Lello*, e com muita atenção à parte final que, pressupostamente, se refere ao fel.
Dou por mim a concordar com Lello pela primeira vez na vida! Porém, Lello como membro da concelhia e da distrital do Porto do Partido Socialista não se pode furtar às responsabilidades que recaem, e muito, sobre a actuação do seu partido na minha cidade.
De Rui Rio nem vale a pena falar… a sua tacanha e miudinha forma de actuar foi – e continua a ser – a machadada final nas pretensões – se é que as houve? – de europeização desta cidade que a Portugal deu o nome.
*Necessita do RealPlayer para poder ouvir o curto programa de 5 minutos.
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