sábado, 3 de janeiro de 2009

Se me perguntam…

Tento responder com os argumentos que de relance me afloram a mente, mesmo que a questão não tenha existência física de facto, provinda de um interlocutor suficientemente vigilante para questionar as minhas escolhas. Ela está lá a gravitar, entre sinapses, à espera do momento infinitesimal em que a espoleta solta a interrogativa e surgem os fragmentos de uma possível resposta, não pensada, pronta a sair ao correr das emoções.
Porquê o Cashback? Ou, seguindo o título que o IGAC escolheu, porquê o Bem-vindo ao Turno da Noite?
Colocaste-o em 10.º lugar
Talvez responda, a abertura. Sim o momento em que se dá o contacto com a obra e que depende em muito da disposição emocional nesse marco temporal. O toque melodramático, potencialmente kitsch – dir-me-ão –, preservado indelevelmente pelo som que se solta, uma das melhores árias de ópera de todos os tempos, geradas pelo efémero e admirável compositor, que repousa ao lado de muitos outros que enobreceram a arte, em Père Lachaise, Paris: Vincenzo Bellini (1801-1835) – a ária é “Casta Diva” da ópera Norma, imortalizada por Maria Callas (1923-1977), neste caso interpretada pela soprano escocesa Jeni Bern, conduzida pelo jovem maestro e compositor inglês Guy Farley, com a Orquestra Metropolitana de Londres.

Não sei se conseguem ler as legendas em árabe, (e apenas me interrogo dadas as piedade e simpatia arrebatadas pelas suas gentes, religião e cultura que grassam pela blogosfera lusa esquerdófila e amnésica, e também pela saudosista e neonazi – como sempre, a ciência, os pólos opostos atraem-se –, contra esses celerados capitalistas/sionistas), mas pedindo perdão pela eventual contundência do aparte, eis esta deliciosa abertura:



«São necessários aproximadamente 227 kg para esmagar um crânio humano. Mas a emoção humana é uma coisa bem mais delicada.
Olhem para a Suzy, a minha primeira namorada a sério. A minha primeira separação a sério, a acontecer mesmo à minha frente. Nunca pensei que iria assemelhar-se a um acidente de carro. Travei a fundo, e estou a deslizar em direcção a um impacto emocional.
Então, será isto tudo culpa minha? Eu. Ben Willis.
É engraçado o que nos passa pela cabeça numa altura como esta. Os dois anos e meio que passámos juntos. As promessas que fizemos. As férias que passámos com os pais dela. O candeeiro que ambos comprámos no Ikea.
Era o meu último ano na Escola de Artes. E nas semanas que se seguiram à separação, tentei entender o que poderia ter corrido mal. Porque é que acabámos? É engraçado, mas quando recuo no tempo o motivo parece-me tão insignificante. Num dia ela está comigo e a dizer “eu amo-te”, e na semana seguinte ela está com outra pessoa... Provavelmente, a dizer-lhe a mesma coisa.
Será que, na realidade, ela me amou? Afinal, o que é o amor? E será assim tão passageiro?
[…] [a terminar o excerto arabizado, um diálogo banal, que se desbanaliza com as imagens]
Sean: Tens de arranjar uma rapariga bonita; uma modelo ou assim.
Bem: Porquê?
Sean: Bem, porque se tiveres uma rapariga bonita atrelada a ti, é porque a mereces. As mulheres estão sempre em competição umas com as outras. A Suzy vê-te com uma tipa sexy, então ela irá pensar “Se eu conseguir arrancar o Ben àquela rapariga bonita, então eu tenho de ser mais bonita que ela.”

O sucesso do Sean com mulheres era bastante impressionante.

Sean: É verdade. Pergunta à tua mãe.»

Diálogo extraído do filme britânico, exibido em 2008 nas salas de cinema portuguesas, Bem-vindo ao Turno da Noite (Cashback, 2006), argumento e realização de Sean Ellis [tradução: AMC, 2009]

Mote e fantasia:
«O tempo voa, mas a boa notícia é que tu és o piloto.»

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