domingo, 4 de janeiro de 2009

VERDADE

«Mais que amor, dinheiro e fama, dai-me a verdade. Sentei-me a uma mesa onde a comida era fina, os vinhos abundantes e o serviço impecável, mas onde faltavam sinceridade e verdade, e com fome me fui embora do inóspito recinto. A hospitalidade era fria como os sorvetes. Pensei que nem havia necessidade de gelo para conservá-los. Gabaram-me a idade do vinho e a fama da safra, mas eu pensava num vinho muito mais velho, mais novo e mais puro, de uma safra mais gloriosa, que eles não tinham e nem sequer podiam comprar. O estilo, a casa com o terreno em volta e o “entretenimento” não representam nada para mim. Visitei o rei, mas ele deixou-me à espera no vestíbulo, comportando-se como um homem incapaz de hospitalidade. Na minha vizinhança havia um homem que morava no oco de uma árvore e cujas maneiras eram régias. Teria feito bem melhor visitando-o a ele.»
Henry David Thoreau, Walden ou a Vida nos Bosques, pp. 358-359
[Lisboa: Antígona, Junho de 1999, 367 pp.; tradução de Astrid Cabral, com revisão e adaptação de Júlio Henriques; obra original: Walden; or, Life in the Woods, 1854.]

Em destaque, a passagem sublinhada por Christopher McCandless no livro encontrado junto aos seus restos mortais no Alasca. No topo da página aquele havia escrito e sublinhado em letras maiúsculas a palavra “VERDADE” (cf. Jon Krakauer, O Lado Selvagem).

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