Antes de chegar ao tutano do texto, embora corra o risco de exibir o meu carácter tergiversador, cabe-me fazer aqui um brevíssimo proémio para que se espalhe uma luz sobre a figura do escritor nipónico Haruki Murakami.
José Mário Silva, no seu blogue A Invenção de Morel, apõe uma pequena asserção que, assim dita, é susceptível de gerar um manancial de interpretações:
José Mário Silva, no seu blogue A Invenção de Morel, apõe uma pequena asserção que, assim dita, é susceptível de gerar um manancial de interpretações:
«Haruki Murakami é o Dan Brown dos intelectuais.»
Ora, uma coisa parece certa, ambos escrevem livros e que estes estão traduzidos para a nossa língua. Dan é um cidadão americano com quase 42 anos de idade, Haruki é japonês de com 57 anos já feitos – logo, já está, literariamente, um homenzinho. O primeiro publicou 4 romances 4, o segundo 16. Ambos são considerados como escritores “pop” – de limão não estraga as unhas nem, tão-pouco, as mãozinhas! –, embora o primeiro seja um pop internacional, o segundo, por enquanto, é um pop apenas no Japão, ao contrário da sua imagem na Europa ou nos Estados Unidos.
Posto isto, há uma pequena grande diferença – o chamado pormaior:
DB escreve romances policiais – históricos ou não – que resultam de uma aturada pesquisa bibliográfica, uma vez que procura neles abordar matérias polémicas, fracturantes e conspirativas. A sua prosa é de leitura e de interpretação fáceis, leve e enleante, constituída, na sua essência, por diálogos e por breves abordagens explicativas dos seus personagens. Tudo isto espargido por um número infindável de capítulos, curtos, com final em suspenso que, em regra, só é continuado 1 ou 2 capítulos mais à frente. DB não se detém em rodriguinhos literários ou em efabulações, é curto e grosso, e chega!
HM é mais complexo sem o parecer. Em muitas circunstâncias a mensagem que pretende transmitir lê-se nas entrelinhas, porém, na maioria das vezes, damo-nos a procurá-la como tontos desconfiados, mas de facto nesse local ela não existe; o texto é taxativo, mas há qualquer coisa que, por vezes, nos põe a pensar em voz alta e nos leva à teimosa e cansativa releitura do parágrafo que mal acabámos de passar os olhos. Sobre Murakami fico-me por aqui – apenas neste texto –, até porque – e o insone Henrique Fialho é disso o suspeito número 1 – «O Senhor Murakami» é muitíssimo bem – já pareço a ® com os seus incontáveis superlativos – retratado num pequeno texto homónimo – aliás, por falar no diabo, o título deste texto foi daí plagiado – de Rui Tavares incluído no seu livro «Pobre e Mal Agradecido», Tinta-da-china, Fevereiro de 2006 (pp. 53-63).
Em Portugal, HM tem 3 títulos editados – como estou com uma preguiça colossal, ver aqui o que já escrevi sobre isto – e já há um 4.º a caminho, o seu mais louvado e premiado «The Wind-Up Bird Chronicle», que também será editado pela Casa das Letras.
Para finalizar, regresso ao proémio e tento fazer um exercício lógico-dedutivo:
Li Dan Brown. Todos. Os 3 editados em português e lerei o que há-de vir. Gosto – serei supliciado, é certo, mas foda-se, é a vida! Diverte-me e desopila-me. Gosto de Murakami. Muito até. Li o de Sputnik que era beat, que era beatnik, Kerouac. Não gosto, desprezo até, Beatles. Mas gostei do Eleanor – não, isso era Coupland, seu sacrílego! – Norwegian Wood. O pássaro voou…
Logo:
Sou um banal, hetero, coçador-de-tomates, bebedor-de-cerveja, leitor-de-jornais-desportivos de um pop, arremetido de frivolidades, mas, ao mesmo tempo, sou um pop culto, um panasca de um intelectual de um presunçoso que só se besunta com caviar e com champanhe – champagne, s’il vous plait! – e nada de lambonas da Planta de passantes de chopingue dominical de fatos-de-treino roxos flamejados de verde-alface e bigodes farfalhudos risca-ao-meio na bissectriz do cabelo gorduroso, manteiga… conhece a manteiga como Brando no seu Último… em Paris!
Rótulos, compartimentações, guetos, prisões… Prometeu ladrão da chama agrilhoado, de fígado pútrido por uma águia debicado.
Que nó!
Notas:
(1) Para mais informações sobre o autor consultar esta página da Wikipedia, onde se poderão encontrar outras referências espalhadas pela Internet.
(2) Sobre «Kafka à Beira-mar» – editado este ano em Portugal, ver aqui a referência – confesso que fiquei um pouco decepcionado com o excesso de delírios fantasiosos. Falarei disso quando houver tempo, e se me apetecer, claro!
(3) Por uma questão de justiça – aliás já o queria ter feito há muito – o blogue do Rui Tavares salta já para a minha lista de ligações.
Posto isto, há uma pequena grande diferença – o chamado pormaior:
DB escreve romances policiais – históricos ou não – que resultam de uma aturada pesquisa bibliográfica, uma vez que procura neles abordar matérias polémicas, fracturantes e conspirativas. A sua prosa é de leitura e de interpretação fáceis, leve e enleante, constituída, na sua essência, por diálogos e por breves abordagens explicativas dos seus personagens. Tudo isto espargido por um número infindável de capítulos, curtos, com final em suspenso que, em regra, só é continuado 1 ou 2 capítulos mais à frente. DB não se detém em rodriguinhos literários ou em efabulações, é curto e grosso, e chega!
HM é mais complexo sem o parecer. Em muitas circunstâncias a mensagem que pretende transmitir lê-se nas entrelinhas, porém, na maioria das vezes, damo-nos a procurá-la como tontos desconfiados, mas de facto nesse local ela não existe; o texto é taxativo, mas há qualquer coisa que, por vezes, nos põe a pensar em voz alta e nos leva à teimosa e cansativa releitura do parágrafo que mal acabámos de passar os olhos. Sobre Murakami fico-me por aqui – apenas neste texto –, até porque – e o insone Henrique Fialho é disso o suspeito número 1 – «O Senhor Murakami» é muitíssimo bem – já pareço a ® com os seus incontáveis superlativos – retratado num pequeno texto homónimo – aliás, por falar no diabo, o título deste texto foi daí plagiado – de Rui Tavares incluído no seu livro «Pobre e Mal Agradecido», Tinta-da-china, Fevereiro de 2006 (pp. 53-63).
Em Portugal, HM tem 3 títulos editados – como estou com uma preguiça colossal, ver aqui o que já escrevi sobre isto – e já há um 4.º a caminho, o seu mais louvado e premiado «The Wind-Up Bird Chronicle», que também será editado pela Casa das Letras.
Para finalizar, regresso ao proémio e tento fazer um exercício lógico-dedutivo:
Li Dan Brown. Todos. Os 3 editados em português e lerei o que há-de vir. Gosto – serei supliciado, é certo, mas foda-se, é a vida! Diverte-me e desopila-me. Gosto de Murakami. Muito até. Li o de Sputnik que era beat, que era beatnik, Kerouac. Não gosto, desprezo até, Beatles. Mas gostei do Eleanor – não, isso era Coupland, seu sacrílego! – Norwegian Wood. O pássaro voou…
Logo:
Sou um banal, hetero, coçador-de-tomates, bebedor-de-cerveja, leitor-de-jornais-desportivos de um pop, arremetido de frivolidades, mas, ao mesmo tempo, sou um pop culto, um panasca de um intelectual de um presunçoso que só se besunta com caviar e com champanhe – champagne, s’il vous plait! – e nada de lambonas da Planta de passantes de chopingue dominical de fatos-de-treino roxos flamejados de verde-alface e bigodes farfalhudos risca-ao-meio na bissectriz do cabelo gorduroso, manteiga… conhece a manteiga como Brando no seu Último… em Paris!
Rótulos, compartimentações, guetos, prisões… Prometeu ladrão da chama agrilhoado, de fígado pútrido por uma águia debicado.
Que nó!
Notas:
(1) Para mais informações sobre o autor consultar esta página da Wikipedia, onde se poderão encontrar outras referências espalhadas pela Internet.
(2) Sobre «Kafka à Beira-mar» – editado este ano em Portugal, ver aqui a referência – confesso que fiquei um pouco decepcionado com o excesso de delírios fantasiosos. Falarei disso quando houver tempo, e se me apetecer, claro!
(3) Por uma questão de justiça – aliás já o queria ter feito há muito – o blogue do Rui Tavares salta já para a minha lista de ligações.
1 comentário:
Já eu, temendo decepcionar, pecador me confesso: ainda não li Dan Brown nem Murakami. E duvido que os venha a ler nos próximos… meses…
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