terça-feira, 25 de abril de 2006

A via-sacra de um boy atemorizado: 3.ª Estação

Caiu em si. À sua volta um duro silêncio de desdém deita-o por terra.
Cansado, exaurido até ao fim das suas forças, enrodilha-se em postura fetal e chama num bramido dilacerante: «Mãe! Dá-me algo para comer!»
A carga aérea esfumou-se, como o emproado puto andrógino em Alcácer-Quibir.
Queria comer…
«Dai-me algo!», pedia a um deus no qual não acreditava.
«Ah, esta vil quietude ao qual fui votado… Foi obra tua, seu açambarcador de almas intoxicadas em hóstia!»
Sentiu um estremecimento, 5,6 na escala de Richter assinalava o seu sismógrafo de pulso. Uma luz branca, de uma intensidade intolerável, fecha-lhe as pálpebras; sente a pele a queimar como um courato na frigideira. Sente fome…
Ouve uma voz forte em tom monocórdico que lhe diz:
«Boy, penso eu de que, chamaste-me e aqui te trago uma pequena prenda que te calará essa miséria fisiológica».
Boy, acalmou-se, ajoelhou-se em penitência e vislumbrou no fundo de um pedestal o santo anel e uma lúbrica taça…

Paul Cézanne - Fruta

Paul Cézanne, Fruta, 1879/82

FIM!
(as restantes 11 estações careceram de ser percorridas)

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