terça-feira, 10 de janeiro de 2006

Ritmo Editorial Português

Hoje, decidi inaugurar uma nova secção do meu blogue denominada por «Ritmo Editorial Português».
Curiosamente, hoje de manhã, enquanto me barbeava e procedia à mortificação diária da camada protectora e oleaginosa da minha pele com mais um detergente – disfarçado sob a designação de gel de banho suavizante, que respeita o pH natural da minha pele – ouvi na TSF a iniciativa que a organização "Elos - Clube Internacional da Comunidade Lusíada" está a levar a cabo para «tornar oficial o idioma português nas Nações Unidas», através da assinatura de uma petição online.
Segundo os dados estatísticos – que diferem um pouco dos apresentados no texto da petição –, a língua portuguesa é a 6.ª mais falada no mundo – como primeira língua, caso contrário seria 8.ª, ultrapassada pelo bengali e pela língua russa.
À nossa frente estão as seguintes línguas: 1.º mandarim, 2.º hindi, 3.º espanhol, 4.º inglês e 5.º árabe.
Todavia, tendo em consideração que mais de 190 milhões de pessoas em todo o mundo falam português como primeira língua, os livros em língua estrangeira dificilmente chegam traduzidos ao mercado português ou então, se o são, demoram uma eternidade.
Na literatura de ficção, nos ensaios literários, biografias e poesia verifica-se o fenómeno da tradução “em conta-gotas”* ou da tradução “por ondas”** – já não falando dos livros científicos onde o problema é mais grave, traduzindo-se apenas os mais generalistas e, acima de tudo, com um atraso substancial que os torna, irremediavelmente, obsoletos.

Assim, a inauguração desta secção funcionará como um mero indicador do atraso ou da simples inexistência de tradução de obras de autores de referência no mundo da literatura***.

Notas:
* Nesta situação, os editores vão lançando os livros de um determinado autor com alguma parcimónia, esperando que se esgote aquele que foi editado em último lugar. Exemplo: os livros de Paul Auster – anteriormente editados pela Presença, hoje editados pela Asa: o último livro editado em Portugal foi “A Música do Acaso” em Abril de 2005 – se exceptuarmos a colectânea de textos radiofónicos “Pensei que o meu Pai era Deus”. Ora, este livro – 4.º romance do autor (1990) – não se tratava de uma novidade em 2004, uma vez que já havia sido editado pela Presença em 1992, logo optou-se por uma reedição e com nova tradução! Hoje, o último romance de Auster “The Brooklyn Follies” (2005) já se encontra publicado numa esmagadora maioria de línguas – por exemplo, em francês ou em italiano (ambas de Setembro de 2005) – e não se prevê quando irá ser lançado no mercado português na língua de Camões.


** Neste caso, os livros são traduzidos e publicados por atacado, porque um determinado autor é galardoado com determinado prémio literário – Nobel, Pulitzer , Booker Prize, etc. – ou então, o seu último livro tornou-se, rapidamente num bestseller nos EUA, Inglaterra ou França. Exemplo: os livros do autor norte-americano Michael Cunningham. Quando Cunningham ganhou o Pulitzer com o romance “As Horas”, de seguida traduziram-se e publicaram-se os seus livros anteriores: “Uma Casa no Fim do Mundo” e “Sangue do Meu Sangue”.

*** Aceitam-se sugestões para a inclusão de contadores para outras obras literárias não publicadas em Portugal via a opção “comentários” ou via “e-mail”. No entanto, o generoso autor deste blogue está imbuído do poder discricionário na aceitação das propostas. Que democrata!

Sem comentários: