quinta-feira, 26 de janeiro de 2006

O enjoo da Nação

Fecho o livro. Sento-me no sofá. Ligo a televisão previamente sintonizada na RTP1. Um fundo verde nauseante e congelado leva-me, por impulso, a fechar os olhos, quando ouço «estamos no ar? Ou não?». Não, porra! Estás verde como uma alface!
Nisto começa uma musiquita que me acentua os movimentos peristálticos e ouço de JRS «Boa noite! Bem-vindos a mais uma edição do Debate da Nação».
«António José Seguro, Dias Loureiro, António Filipe, Pires de Lima e Fernando Rosas».
Que enjoo, discute-se o resultado das eleições presidenciais!
Os políticos presentes, em especial os da dita esquerda, discutem a votação em Cavaco Silva: «tangencial», «derrota da esquerda provocada pelo PS», «erro estratégico», «o candidato da direita não transmitiu uma única ideia», «o país perdeu»… Ora, vão todos para a PQP!
Levanto-me. Pego no livro e desloco-me à varanda. Acendo o meu Camel Filters* ainda a 2,45 euros. Abro o livro, retiro o marcador, capítulo 11... e começo a ler, tentando disfarçar a náusea «De repente, a caminho do átrio, veio-me outra vez ao pensamento a amiga Jane Gallagher. E é que não a tirava da ideia. Sentei-me na cadeira com ar de vomitado no átrio e pus-me a pensar nela e no Stradlater sentados na merda do carro de Ed Banky, e, embora tivesse quase a certeza de que o amigo Stradlater não a tinha comido (…)».
Acabado o cigarro, fecho o livro e dirijo-me ao computador – sem passar pela televisão ainda ligada – para escrever esta merda…
É que no trajecto tinha-me lembrado de algo brilhante:
Por que é que a porra do bando dos políticos ainda não inventou um campo especial nos boletins de voto com a designação “Observações”?
Deste modo, poupar-nos-iam a estas discussões indutoras da insidiosa regurgitação, com perdas de água e sais minerais. Por exemplo, eu votei em Cavaco e, então, logo escreveria nesse campo «Daaa! 'Tá-se mesmo a ver! É o candidato mais capaz para assumir a função!»; o que V. Exas. até puderam verificar pelos meus textos neste blogue.
Era muito mais sério e, em simultâneo, divertia os sapientes escrutinadores!
Mais exemplos:
«Votei em Cavaco porque adoro bolo-rei»;
«Votei em Cavaco porque, no meio daquela merda, era o que cheirava menos mal»;
«Votei em Cavaco porque quero arreliar o Soares, que por sua vez arrelia o Sócrates, que por seu turno malha no Alegre através da imoderada Ana Gomes – que suave que fui! –, que depois se arrepende de ter saído do MRPP, e quem irá ganhar no futuro será o Garcia Pereira».
E por aí fora…

Ai, que tontura que se me deu!

Nota:
* No estrito cumprimento da lei, o Engenheiro solicitou-me a colocação deste aviso «FUMAR... ajuda a equilibrar o Orçamento de Estado! Fume pelos seus filhos!»

1 comentário:

Anónimo disse...

Caro AMC:

O texto parece-me um tanto rebuscado e não concordo com a apreciação do programa "Debate da Nação".

O caro AMC revela pouca Bondade para com aqueles que não vão ao Teatro ou ao Cinema (por razões que agora não interessam).

O programa tem um vasto "interesse público", a saber:

1º- A falta de Filmes novos, em Português, tipo António Silva e Vasco Santana;

2º- Nós, os mais idosos, já temos tão poucas coisas que nos façam rir que a eliminação dum programa deste tipo deixar-nos-ia em contemplação "assíncrona";

3º- Deixaríamos de ter pontos de "referência" idiológicos;

4º- Da próxima ficaríamos na dúvida em quem votar.
Cumprimentos