domingo, 15 de janeiro de 2006

A(no)nimosidade

De repente a histeria colectiva das “listagens” transviou-se na blogosfera para a discussão sobre os anónimos, pseudónimos e ilustres (e identificados) autores.
JPP qualificou como “PÉSSIMAS COISAS (…) em 2005 (…) Na blogosfera” o putativo anonimato dos autores do blogue de referência Grande Loja do Queijo Limiano.
A resposta não tardou e surgiu «com conta, peso e medida».
O duelo bloguista promete!
A minha (modesta) opinião:
A Internet – e mais concretamente a blogosfera – trouxe-nos o inalienável privilégio da democratização do poder de opinar, de explanar e de vociferar, de descarregar as frustrações quotidianas, de espalhar a nossa visão do mundo, de discricionariamente categorizarmos os actos e os pensamentos como bons ou maus.
Como em todo o lugar, existem, por um lado, os que já não necessitam de se pôr em bicos de pés para se fazerem ouvir e livremente poderem exprimir as suas ideias e apreciações da realidade, porque, por maus ou bons meios, adquiriram essa qualidade sentenciosa; por outro, estão todos os outros, os anónimos por definição, que tentam chegar ao poder da comunicação, sob que forma for, para se juntarem à elite ou então para fazerem ver a essa elite que já não são os exclusivos proprietários desse poder, da sabedoria do mundo, da erudição e da doutrina da fé baseada nos seus padrões – muitas vezes infames – da moral e dos bons costumes de uma dada comunidade.
Para os doutos e ilustres pertencentes à elite, a publicitação do seu nome constitui-se, acima de tudo, como um meio publicitário na sua rebuscada estratégia de marketing e de angariação de doutrinados.
Porém, para os doutos e ilustres desconhecidos o anonimato ou a assumpção de um pseudónimo são as únicas vias de poderem expressar as suas opiniões, muitas vezes pela posição que ocupam na sua vida profissional e/ou pessoal, de forma a não se arriscarem ao duro escrutínio de alguém que, por certo, usaria as suas palavras como arma de arremesso que, facilmente, se transforma numa arma de destruição em massa, desprotegendo a sua vida ou em simultâneo a dos seus familiares, amigos e companheiros de trabalho.
Se se difama, se se falseia a realidade, se se utilizam meios eminentemente do domínio do indispensável segredo profissional, há sempre a hipótese de recorrer aos meios judiciais e levantar esse anonimato. Agora, que não se venha pelo meio da arruaça e do torpe desafio exigir que alguém ceda aos seus desígnios num meio livre e plural, utilizando como coacção a couraça protectora que se foi adquirindo pelo mediatismo e pelos jogos de poder da política portuguesa.
Ninguém é o supremo detentor da verdade e da exclusiva competência de opinar. Abaixo deles há sempre alguém que sofre em silêncio e que resiste sob uma forte pressão das palavras que não se podem soltar… porque têm que subsistir neste mundo que não foi feito à sua imagem.

Recomendo vivamente a leitura do poema que pinta de emoção este blogue.

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