Segundo Isabel Coutinho, regressada da Feira do Livro de Frankfurt, a Editorial Teorema comprou os direitos para publicação para Portugal do romance inédito de Vladimir Nabokov (1899-1977), The Original of Laura, que havia despoletado um aceso debate no mundo das letras, dadas as instruções específicas do autor russo em leito de morte na Suíça para que Véra (1902-1991), a sua mulher, destruísse o manuscrito. Véra morreu em 1991 e deixou a “batata quente” nas mãos do insuportavelmente agreste e evasivo filho de ambos, Dmitri (n. 1934), que andou a brincar durante os últimos anos ao “queimo/não queimo” com os pacientes editores, críticos e jornalistas literários, gerando um chorrilho de especulações quanto ao conteúdo do misterioso manuscrito, composto por 125 ficheiros de indexação – para quem leu Na Outra Margem da Memória (Speak, Memory; 1951, rev. 1967) e Opiniões Fortes (Strong Opinions, 1973), sabe que este era o método de composição utilizado por Nabokov nas suas obras. A conspiração dos letrados envolveu Petrarca, Ticiano, Giorgione, putativas traições passionais reveladas, e por aí fora. Se a especulação tem durado, certamente que o pobre Vladimir Vladimirovich não teria escapado aos ovnilogistas, à Cientologia e a Tom Cruise, e até às conversas privadas com o Altíssimo da emissária Alexandra Solnado.
Também de forma misteriosa, surgiu mais um manuscrito do autor chileno Roberto Bolaño (1953-2003), intitulado de El Tercer Reich, eventualmente escrito antes de Os Detectives Selvagens (Los Detectives Salvajes, 1998), e que entra pelo mundo dos fanáticos alienados dos jogos de estratégia, em que o protagonista, inventor de um jogo de realidade virtual (jogado em tabuleiro) denominado por “O Terceiro Reich” e participante alemão num torneio mundial, se desloca à Costa Brava espanhola para umas férias com a sua namorada, cujo jogo assume o papel de encruzilhada no entretecer de uma teia onírica de proporções cataclísmicas para o jovem autor. Não consegui descortinar pelo texto de Isabel Coutinho se os direitos desta publicação haviam ou não sido adquiridos pelo editor Carlos Veiga Ferreira da Teorema – editora que já havia publicado de Bolaño Os Detectives Selvagens e Estrela Distante (Estrella distante, 1996). No entanto, num país que ainda tem por publicar o magistral 2666 (2004) – obra póstuma, composta por cinco livros, que Bolaño pretendia ver publicados separadamente, com uma periodicidade anual, para garantir uma fonte de sustento à sua família –, e que ainda não publicou a esmagadora maioria da sua obra, acho, no mínimo, extravagante (a tal singularidade lusa que não me canso de repisar) que se opte pela publicação do manuscrito emergido das trevas, e isto apesar da datação posterior de 2666. A ver vamos.
Para 2009, no mundos dos vivos e sem manuscritos secretos para combustão ou qualquer outro uso que se queira dar ao papel, regressam ao, ou melhor, não saem dele (do), mercado os incansáveis autores de origem judaica, nascidos em Newark, Paul Auster (n. 1947) e Philip Roth (n. 1933) – têm, nos últimos anos publicado uma obra de ficção por ano. Auster regressa com Invisible, obra garantida para Portugal pela Asa. Roth com The Humbling, romance garantido pela Dom Quixote.
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