domingo, 19 de outubro de 2008

Animoso desânimo

«O meu sofrimento é horrível. Acima de tudo, o moral. Quando temos um carácter violento, íntegro, é terrível vermo-nos obrigados a engolir em silêncio todos os insultos e a remoer as nossas cóleras. Além do mais, estou só. Ninguém encontro, perto ou longe, que me dê coragem, que me anime.
«Mas olhem! No fundo, gosto mais que assim seja. Prefiro este isolamento, este abandono, às piedades que desgastam a energia e às lamentações que castram. Saber que alguém chorava a minha sorte acabaria por tirar-me a coragem, julgo eu; e estou grato por não andarem a fazê-lo todos esses que poderiam interessar-se por mim apenas com a sua ingratidão egoísta; estou-lhes grato por nunca terem feito brilhar à frente dos meus olhos esses fogos-fátuos da esperança mentirosa, que apenas faíscam para nos fazerem cair e desaparecer nos barrancos do abatimento.»
Georges Darien, Biribi, pág. 166.
[Lisboa: Assírio & Alvim, Julho de 2005, 278 pp.; tradução de Aníbal Fernandes; obra original: Biribi, 1890]

2 comentários:

manuel a. domingos disse...

Estive no outro dia com esse livro na mão. Não o comprei por falta de $.

mas prometi a mim próprio que será o próximo livro que vou comprar...

André Moura e Cunha disse...

É um livro brutal, cru, sem qualquer tipo de mesuras. Aliás, Darien era um quase anarca.
Um abraço,
André

PS - será dinheiro bem gasto, Manel.