sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Escuridão

«Já tudo escureceu;
contudo ainda resta algum dia
suspenso de onde veio a noite que chegou primeiro.

É de sempre este resto de dia
e acompanha-a pelo céu em busca das estrelas frágeis.

A noite, uma vez,
compreenderá que ele vem do mesmo lado que ela.
»

Jorge de Sena, “Nocturnos: V” (1941), in Antologia Poética, pág. 34.
[Porto: Asa, 2.ª edição, 2001, 304 pp.]


Regressa Auster às livrarias portuguesas em edição lusa. A Asa anunciou a publicação do último romance do escritor de Newark, nascido em 1947, Homem na Escuridão em Novembro, em dia que desconheço [via blogue da revista Ler].
A meio de Agosto, dei aqui a notícia da sua publicação mundial, atrevendo-me à tradução das primeiras páginas da versão original norte-americana.
Apenas três meses de desfasamento, a que se acresce a garantia, dada pela nova editora responsável pelas obras de literatura de ficção da Asa, Carmen Serrano, da edição simultânea do original americano e da versão portuguesa em 2009 do 13.º romance do poeta do acaso. O manuscrito está pronto, a obra chamar-se-á Invisible (como referi aqui) e ao que parece diferente dos romances anteriores marcadamente metadiegéticos, apesar de Auster não abandonar de todo o (para ele) viciante artifício metaliterário.
A propósito da sua enorme popularidade na Europa, em comparação com a quase indiferença norte-americana, Auster responde numa entrevista dada no início do mês ao jornal espanhol El Periódico [transcrição da notícia; tradução livre: AMC]:
«“Nos Estados Unidos corre tudo bem”, responde resguardando-se na iminência da pergunta do milhão de dólares. Porque tem uma melhor recepção na Europa do que nos Estados Unidos? “Tenho mais leitores na Alemanha, França e Espanha porque são países aonde ainda interessa a leitura. Nos Estados Unidos é um deserto”. Não se refere aos autores, mas aos leitores que, segundo ele, não têm em conta nem sequer os maiores [escritores], como Philip Roth, John Updike ou Don DeLillo. “Não se engane, eles não vendem muito por lá. Há anos que os escritores não interessam à televisão e tão-pouco lhes fazem entrevistas nos jornais. Em todo o país sobram somente dois ou três suplementos literários”.»
A seguir, como não poderia faltar a um Auster, ultimamente, mais interventivo em termos políticos, vem a zurzidela em George W. Bush e a responsabilidade do estado em que as coisas estão, e da sua influência no espírito do tempo americano contemporâneo.

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