domingo, 5 de outubro de 2008

Revel – I

Jean-François RevelSem mais, e tal como prometi, as palavras do escritor, jornalista, ensaísta e filósofo francês Jean-François Revel (1924-2006), membro da Academia Francesa, no lugar que hoje é ocupado por Max Gallo (cadeira outrora ocupada, por exemplo, por La Fontaine ou por Poincaré), ex-militante socialista e director da revista semanal L’Express, genro de Nathalie Sarraute (casou com a sua filha Claude), publica em 1970 o seu grande ensaio de ruptura com o seu passado socialista, que culpa de indulgente para com o comunismo soviético, Nem Marx Nem Jesus (Ni Marx ni Jésus : De la seconde révolution américaine à la seconde révolution mondiale), denunciando a elite europeia e o seu antiamericanismo primário.
Nas suas palavras:


«Repisa-se constantemente que o terrorismo antiamericano se explica, se justifica mesmo, pela “pobreza crescente” que o capitalismo espalha pelo mundo através da globalização orquestrada pelos Estados Unidos. É o tema que circula nos círculos Attac, na revista Politis, no seio dos Verdes alemães, no meio dos intelectuais latino-americanos e de diversos editorialistas franceses. Mesmo nos Estados Unidos, a extrema-esquerda (Radical Left) organizou manifestações para a divulgação desse slogan. É também a convicção do célebre juiz Baltasar Garzon (El País, 3 de Outubro de 2001), para quem um crime só é um crime se tiver sido cometido por Pinochet, tal como do Prémio Nobel, Dario Fo (Corriere della Sera, 15 de Setembro de 2001), que então escreveu: “Que são os vinte mil mortos de Nova Iorque (sic) comparados com os milhões de vítimas que caem cada ano às mãos dos especuladores?” A atribuição do Prémio Nobel da Literatura a uma nulidade como Dario Fo já tinha levantado dúvidas sobre a competência da Academia de Estocolmo na matéria. Finalmente, o equívoco foi dissipado: o prémio que lhe queriam na realidade atribuir era o da economia.»
Jean-François Revel, A obsessão antiamericana, pp. 84-85.
[Lisboa: Bertrand, Dezembro de 2002, 225 pp; tradução de Victor Antunes; obra original: L'obsession anti-américaine, 2002]

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