A 25 de Dezembro de 1956, Robert Walser foi encontrado morto nos campos que circundavam o sanatório de Herisau, na Suíça. Em 1929, retirou-se voluntariamente do mundo e da literatura como reacção à diagnosticada esquizofrenia e às sequelas que daí adviriam ostentadas num mundo sem compaixão, ou tempo a perder com indulgências, no seu afã de tentar, por caminhos ínvios e erróneos, ser feliz.
Quarenta e nove anos antes, Walser escrevia assim sobre o seu poeta “Sebastian”, o jovem idealista que se afastara de mundo rumo à natureza para compor poemas e de quem o mundo se compadecia, não só pela sua faceta burlesca, mas também pela sua evidenciada melancolia, como uma espécie de “indemnização para a negligência” deste perante tão jovem alma errante ao “propor-lhe tarefas que pudessem satisfazer a sua vontade de acção.” (pp. 53-54).
Palavras proféticas, de um dos mais consagrados “escritores do não”, como diria Vila-Matas (seguir o marcador “Robert Walser” neste blogue):
«Tão nobre a sepultura que ele escolheu para si mesmo. Jaz debaixo de magníficos pinheiros verdes cobertos de neve. Não vou avisar ninguém. A natureza vela pelos seus mortos, as estrelas cantam em voz baixa em torno da sua cabeça e os pássaros nocturnos grasnam, e é esta a música ideal para quem já não ouve nem sente. […] Que repouso grandioso este, jazer aqui imóvel debaixo dos ramos de pinheiros, na neve. É o melhor que podias ter feito. As pessoas tendem sempre a magoar excêntricos como tu e a rir-se do sofrimento. Transmite as minhas saudações aos mortos amáveis e silenciosos que estão debaixo da terra e não ardas por muito tempo nas chamas eternas da inexistência.»
Robert Walser, Os Irmãos Tanner, pp. 86-87.
[Lisboa: Relógio D’Água, Setembro de 2009, 233 pp; tradução de Isabel Castro Silva; obra original: Geschwister Tanner, 1907.]