É já amanhã ao meio-dia (hora de Lisboa) que o emproado secretário permanente da Academia Sueca, Horace Engdahl (ao lado na imagem, com o seu habitual fácies efusivo, homem irradiador do mais aconchegante calor humano), anunciará, no seu inglês arrevesado, o vencedor do Prémio Nobel da Literatura de 2009.
Segundo a listagem deste ano da casa de apostas britânica Ladbrokes, o autor israelita Amos Oz lidera a lista dos prováveis laureados, lista que inclui nas dez primeiras posições quatro escritores que “não participam no diálogo da literatura mundial”, sinónimo de “norte-americanos” ou de “estado-unidenses”:
1.º) Amos Oz (Israel) - 3/1
2.º) Joyce Carol Oates, (EUA), e Philip Roth (EUA) - 5/1
4.º) Herta Müller (Alemanha) - 6/1
5.º) Thomas Pynchon (EUA) - 7/1
6.º) Haruki Murakami (Japão), e Mario Vargas Llosa (Peru) - 9/1
8.º) Claudio Magris (Itália), Don DeLillo (EUA) e Thomas Tranströmer (Suécia) - 12/1
De notar que António Lobo Antunes figura na lista deste ano, com uma probabilidade de 100/1 – fazendo companhia a nomes como Cormac McCarthy, David Malouf, McEwan, Banville, Littell, Julian Barnes, Tournier, Modiano e Auster. Se o homem ganha, ninguém o cala…
Pessoalmente, gostaria que daquela lista de dez nomes saísse DeLillo como vencedor, não me desagradando, no entanto, que o prémio fosse atribuído a Vargas Llosa (se mais faltasse, irritar García Márquez deixar-me-ia à beira da felicidade) ou então, a Roth ou a Pynchon – Updike já era; Auster tem de consolidar a sua obra e apesar de não ser um bestseller, tem um conjunto de fãs incondicionais, e era o que faltava ceder a lobbies de putativos literatos pós-modernistas; Kundera também não deve participar no diálogo da literatura mundial (é um dissidente do comunismo…); com Rushdie há o medo dos árabes; Eco escreveu romances históricos, apesar de serem brilhantes, talvez ofusquem a sua notável obra ensaística; McEwan e Barnes sofrem do mal (acima identificado) de Auster, mas vencendo poderiam servir como uma vingança esquerdista (moderada) às posições assumidas por Martin Amis que, de uma vez por todas, desapareceu das listas de favoritos.
Prognósticos (face à tendência Grass, Pinter, Lessing, Fo, Gordimer, Saramago, Coetzee):
- Ernesto Cardenal, John Berger (não incluído na lista), Tabucchi ou Handke (apesar de brilhante, esse grande democrata miloseviquiano);
- Joyce Carol Oates, para fugir à questão política, dar o braço a torcer à melhor literatura do mundo (a norte-americana), embora dissimulado por um activismo feminista ou pela “condição das mulheres” (frase que integrará a curta descrição justificativa na atribuição do prémio).
[rectificação] *O supracitado Horace Engdahl (ocupante da 17.ª cadeira da Academia Sueca desde 1997) deixou, felizmente, de desempenhar o cargo de Secretário Permanente da Academia Sueca no final do mês de Maio deste ano. Engdahl foi substituído pelo historiador e ensaísta Peter Englund (ocupante da 10.ª cadeira da Academia Sueca desde 2002), o que pode dar um sinal de abertura à literatura norte-americana, que já não é galardoada com o Nobel desde 1993, quando o prémio foi atribuído a Toni Morrison. Assim, os prognósticos aqui postados foram efectuados na presunção de Engdahl ainda como Secretário Permanente, que, em abono da verdade, na questão primordial da atribuição do prémio apenas contribuía com 1/17 dos votos (a Academia Sueca é originariamente composta por 18 membros – 18 cadeiras – mas, neste momento, a cadeira n.º 1 está vaga), logo a política seguida até Junho de 2009 poder-se-á manter. [Tomei conhecimento da substituição de Engdahl por Englund no blogue Bibliotecário de Babel.]