É oficial, João Tordo é o vencedor do Prémio Literário José Saramago (de periodicidade bienal) de 2009 (que, segundo o blogue da revista Ler, passará a anual a partir deste ano, com a atribuição seguinte a ocorrer já em 2010) pelo seu magnífico romance As Três Vidas, publicado em 2008 pela editora matosinhense QuidNovi – a talho de foice, refira-se que é a segunda vez (e consecutiva) que o prémio galardoa uma obra publicada por esta editora.
Fiquei duplamente satisfeito com a notícia. No que respeita ao primeiro motivo poder-me-ão apontar alguma vacuidade (como se me importasse), pela vaidade, porquanto assenta no orgulho da confirmação de um dos meus livros preferidos editados em 2008, que mereceu neste mesmo espaço a minha apreciação, em jeito de recensão: fôlego, dizia eu.
Em segundo lugar, e apesar de não conhecer pessoalmente o João Tordo, esta realidade alternativa a que convencionámos chamar de blogosfera, teve o condão de me fazer aproximar do João através da palavra impressa em hipertexto. Embora, muitos desses encontros se hajam declarado em encarniçados recontros clubísticos. O João tem o terrível defeito de amar o vermelho das papoilas saltitantes – para saúde dele, espero que expurgadas do leite modorrento que lhes corre pelos veios, meio metafórico pelo uso deliberado da mentira sobre o povo, segundo os íntegros e translúcidos dirigentes soviéticos de 1917 até 1989 –, por aqui, como é sabido, a chama do dragão continua a manter intacto um horizonte de esperança sob a óptica do vencedor.
Parabéns, João.
Para os mais preguiçosos na activação da ligação supracitada, aqui fica um excerto do que escrevi, há quase um ano, a propósito da leitura de As Três Vidas, um panegírico envolvendo Borges e Kafka (João em boa companhia):
«As Três Vidas, o último romance de João Tordo, tem, de certa forma, matizes kafkianos na estrita medida do qualificativo definido por Borges, implicando, para isso, que da leitura da obra se tivesse verificado o uso (mais ou menos consciente) das seguintes premissas: a subordinação e o infinito – que Borges afirmava serem obsessões do jovem Kafka, e que, de certa forma, influenciarão, definitivamente, a sua extensa obra, plena de circularidades e perpetuidades.»
Lista dos vencedores do Prémio Literário José Saramago desde a sua fundação:
2007 – valter hugo mãe – O remorso de Baltasar Serapião (QuidNovi)
2005 – Gonçalo M. Tavares – Jerusalém (Caminho)
2003 – Adriana Lisboa – Sinfonia em Branco (Temas e Debates)
2001 – José Luís Peixoto – Nenhum Olhar (Temas e Debates)
1999 – Paulo José Miranda – Natureza Morta (Cotovia)