terça-feira, 20 de outubro de 2009

Sai um Pinholino, mas com mais Lino, por favor

Talvez tenha passado despercebido, até pela incomensuravelmente alta propensão marginal para a asnidade do (tomara) pretérito Ministro das Obras Públicas, de seu nome Mário Lino.
Lino foi um inspirador para os filólogos no enriquecimento da língua, graças às suas desembestadas profissões de fé que o próprio, de imediato, tentava colocar em prática no seu estilo picaresco, à verbosidade e à assincronia profunda entre pensamentos, palavras – que oprimiam os primeiros até ao grau mínimo –, e acções – felizmente, travadas a tempo, pelo próprio quando chamado à razão mínima, ou por interferência de outros contando-lhe uma anedota derrogatória. Com ele ganhou o português, não o cidadão, desiludam-se, mas a língua falada por centenas de milhões de pessoas espalhadas pelo mundo ao introduzir-se o nome “linismo” e todos a morfologia conexa.
Aliás, a acção concertada entre o referido ministro e o seu companheiro de Governo com a pasta da Economia criou o famoso mutante, de proporções quase bíblicas – acredita-se mesmo que o esqueleto de Mary Shelley finalmente se pulverizou na tumba, tantas foram a contorções orbiculares de inveja pela pequenez espiritual do seu Frankenstein –, mais conhecido por Pinholino, cujos efeitos em forma de mito sobre a população são, por ora, desconhecidos: Irá ser um monstro bonacheirão, a quem se alude para uma boa piada social? Ou um terrível e assustador mostrengo que assombrará as mentes mais vulneráveis, especialmente as de crianças de tenra idade, a razão de ser das noites negras e tempestuosas a cada passo rasgadas por um clarão fantasmagórico, seguido de um trovão arrasador?
Não sabemos. O tempo encarregar-se-á de o demonstrar.
“Come a sopa toda senão eu chamo o Pinholino.” “Não entres tão depressa nessa noite escura (versão de omnipresença megalómana ou de ALA) que o Pinholino vai-te papar.” “Fumar pinholiniza.” “30 condutores detidos numa operação stop realizada sexta-feira passada na A-28, conduziam sob vestígios do efeito de pinholinol.” E por aí fora.
Mas o que me trouxe a estas linhas – não férreas, porque dessas o Lino encarregou-se, com um afinco inusitado, de as desalinhar de vez, neste pobre pais centralista – foi o esmiuçamento de sexta-feira passada sobre – e porque não, como fazem os Gato a si mesmos, epitetar o ministro, ainda que, a adjectivar, jamé com variações vocabulares de engrandecimento, senão com um qualificativo que revele uma certa irreflexão comportamental – o truão acidental Lino. A dada altura, RAP confronta-o com os mimos que António Costa deu de regalo ao desafortunado ministro, quando aquele passou a gerir os destinos do município lisboeta. Numa alegoria, talvez pinholínica, de “panos e nódoas”, Lino diz:
«Aliás, foi um grande político contemporâneo português, o engenheiro José Sócrates que… e parafraseando uma frase dele, que está para nascer o Ministro das Obras Públicas que tenha feito mais pelo concelho de Lisboa do que eu – quem diz por Lisboa, posso dizer o mesmo pelo Porto e pelos muitos outros no país…»
Claro, claro, eu bem sei o que fizeste pelo resto do país, vivendo eu na sub-região à volta do umbigo alfacinha.
Vai daí e desfia, sem qualquer tipo de pudor, o rosário das benesses centralistas:
«(…)acabámos a CRIL, o eixo Norte/Sul, o túnel do Rossio, o túnel do Mmm… [aqui ia-se apropriando de obra alheia] do Terreiro do Paço, o Cais das Colunas, o Metro entre o Chiado e Santa Apolónia, passámos para a gestão da Câmara Municipal as áreas das zonas portuárias que não tinha utilização portuária… enfim, milhentas coisas que foram feitas.»
Quantos milhões dos nossos impostos, de A Região e da sub-região? Dá vontade de procurar os custos com derrapagens abissais perante o orçamentado, fazer a soma e mostrar em letra gorda ao país todo. E ainda falta somar o que aí vem: a 3.ª travessia sobre o Tejo; o TGV Lisboa/Madrid para meia dúzia de felizardos que se podem dar ao luxo de perder um dia de viagem para a Capital espanhola e pagar um quantia avultada de bilhete, enquanto se vão multiplicando as companhias de aviação low-cost; o aeroporto de Alcochete; e não sei quantas mais linhas de metro.
E termina (como começou) com um auto-elogio, embora o primeiro tenha pretendido ser uma ironia:
«Fui um grande… e, enfim, esmerei-me e… e dei tudo o que pude para contribuir para a sua vitória – foi muito boa – acho que Lisboa tem hoje um grande Presidente da Câmara, e estou convicto que ele vai ser… vai fazer um excelente mandato durante os próximos quatro anos.»

Pobre Elisa. Pobre Apolinário. E todos os outros candidatos a autarca do partido da rosa.

Nota: entre aspas francesas figura a transcrição textual (melhor, de ouvido) de parte da entrevista dada por Mário Lino a Ricardo Araújo Pereira no passado dia 16, no programa Gato Fedorento Esmiúça os Sufrágios, da SIC. Por qualquer erro sintáctico ou gramatical, o Ministério das Obras Públicas pede perdão, compensando com a construção de uma rotunda em sítio a combinar.