domingo, 28 de dezembro de 2008

O Nobel e... a vaselina

«De repente, assalta-me uma ideia!… e se eles me dessem, a mim, o prémio Nobel?… seria uma ajuda formidável para o gás, as contribuições, as cenouras!… mas os palermas lá de cima não mo vão dar! nem o rei deles! dão-no a todos os panascas que se possa imaginar!… sim, os que mais vaselina usam em todo o planeta!… claro! está tudo decidido!… a si basta-lhe ter visto Mauriac, de casaca, inclinando-se como uma dobradiça, encantado, concordante, em cima do pequeno palanque… nada constrangido!… nada engasgado!… “oh! como é belo, gordo, o vosso Nobel!” dizia eu ontem a alguém… e esse alguém insurgia-se! “então! mas Nimier propõe-no a si!… ingrato!… você não leu? só precisa de um pouco de coragem!… escreva-nos outra Viagem e eles resolvem tudo!…” eu posso ter a minha opinião… pessoalmente, não acho a Viagem assim tão divertida…»
Louis-Ferdinand Céline, Castelos Perigosos, p. 43
[Lisboa: Ulisseia, Setembro de 2008, 362 pp.; tradução de Clara Alvarez; obra original: D’un château l’autre, 1957.]

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