quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Falta-me tempo (forte sentimento)

E o tempo, afincado na sua recta que o desloca ao infinito, com as suas marcas indeléveis, assinala três anos de divagação por este mundo de paradoxos, estridente, confessional, histérico, fraterno, egoísta, ambicioso e catártico – a blogosfera.
Intermitências. Amuos, júbilos, irritações, partilha... sobretudo, partilha. Começou com o Porque a 17 de Dezembro de 2005, prosseguiu com o In Absentia em 2 de Dezembro de 2007, termina com o Nunca Mais, inaugurado a 30 de Abril de 2008.

A todos (2 leitores e meio), antecipo-me, agradeço a vontade (ou a realização) de celebrar com palavras este momento, sem mais tarde – perdoem-me! – discriminar por escrito a, certamente, extensa lista de bloggers que assinalou a data.

Termino com um dos meus poetas favoritos, cuja morte se assemelha em muito àquela que está na origem da permanente inquietação que me trouxe até aqui; até no tal tempo emparedado por nascimento e morte.

Deixando a métrica e a prosódia de lado, e a minha profunda perplexidade pela quase inexistência de Keats em versão portuguesa, aqui fica um dos meus sonetos preferidos, que ilustra bem o ânimo que por aqui assentou arraiais.

[na sua versão original, trata-se de um soneto inglês, composto por três quartetos e um dístico, com versos em pentâmetro jâmbico – métrica integralmente descurada na versão que se segue, por falta de ciência e paciência do celebrante.]

Quando temo o fim próximo da minha existência
Antes que a pena haja respigado meu cérebro atulhado,
Antes do monte de livros, símbolos e sinais em coerência,
Armazenados como grão maduro em celeiros abonados;
Quando observo o rosto da noite de estrelas manchado
Símbolos gigantescos e nebulosos de um amor-desatino,
E pensar que poderei não viver para haver esboçado
As suas sombras, através da mão mágica do destino;
E quando sinto, ser encantador de um dia radioso,
Que não mais poderei divisar as tuas formas ardentes,
Apreciar o dom das fadas e sentir-me poderoso
De amor irreflectido! – e logo nas vertentes
Deste mundo imenso estou só, vem-me em pensamento,
Até o amor e a fama se afundam no esquecimento.

John Keats (1795-1821), “When I have fears that I may cease to be” (escrito em 1817; 1818) [versão de AMC, 2008].

8 comentários:

André disse...

dois leitores virgula setenta e cinco! abraço.

manuel a. domingos disse...

é pena, mas paciência
volta quando for possível

André Moura e Cunha disse...

Meus caro,
Não é desta que se vêem livre de mim.
Digamos que foi apenas um aniversário saturnino.

filipe canas disse...

ahh, fico bastante mais descansado.

Este blogue é soberbo.

abraço

PL disse...

"Blogue soberbo" por uns,

, diariamente consultado por outros. Cumprimentos de um leitor que por acaso aqui veio e ter, (..e por aqui foi ficando)

André Moura e Cunha disse...

Obrigado, meus caros pelas palavras, decerto, imerecidas.

Carla de Elsinore disse...

Um super 2009, é o que te desejo.

André Moura e Cunha disse...

Minha querida Carla, obrigado e devolvo-te em dobro o desejo de uma excelente 2009.
Beijinhos,
André