domingo, 21 de dezembro de 2008

Doutrina: literatura e coração

«A linguagem é um meio glacial, escarrapachado na página. Ao contrário de artistas e atletas, temos a possibilidade de reinventar, rever e reescrever por completo, se assim o quisermos. Antes de o nosso trabalho conhecer a versão em tipo de imprensa, tal como acontece gravado em pedra, mantemos o nosso poder sobre ele. A primeira versão pode ser algo confusa e cansativa, mas as versões seguintes levantarão voo e revelar-se-ão emocionantes e arrebatadoras. Só é preciso ter fé: não se pode escrever a primeira frase até a última frase ter sido escrita.
Só nessa altura saberás para onde vais e por onde andaste.
O romance é o mal para o qual só o romance constitui a cura.
E pela última vez:
Põe no papel tudo o que te vai no coração.» (p. 39)

«Põe no papel tudo o que te vai no coração.
Nunca tenhas vergonha do assunto, nem da paixão que sentes pelo assunto.
» (p. 35)

Joyce Carol Oates, “A Um Jovem Escritor”, A Fé de Um Escritor: Vida, Técnica, Arte (pp. 35-39).
[Cruz Quebrada: Casa das Letras, 1.ª edição, Setembro de 2008, 172 pp.; tradução de Maria João Lourenço; obra original: The Faith of A Writer: Life, Craft, Art; 2003.]

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