segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Por mero ACASO

Acabei de receber por correio electrónico o que se segue: Paul Auster em Cascais no próximo domingo, em companhia do crítico de cinema Rui Pedro Tendinha.


Presumo que irão falar sobre cinema, ou do relativo fracasso de A Vida Interior de Martin Frost (The Inner Life of Martin Frost, 2007), aproveitando o autor para lançar no mercado português a tradução do seu mais recente romance Homem na Escuridão (Man in the Dark, 2008), cuja edição está a cargo da editora, ex-portuense?, Asa, agora integrada no grupo LeYa. E diga-se que, apesar da debandada de autores, não abriu mão das obras do escritor sexagenário de Newark, Nova Jérsia – e só espero que, na espinhosa tarefa de manter os bons autores na casa, os responsáveis da editora não se tenham esquecido das obras da sua mulher, a alta e loura – como ele próprio a descreveu –, e descomunal escritora Siri Hustvedt, com novo romance publicado (e bastante elogiado) este ano nos Estados Unidos, e com a restante obra quase esgotada em Portugal, com excepção do avassalador Aquilo Que Eu Amava (What I Loved, 2003), a pedir uma urgente reedição.

Regressando à tertúlia cascalense, onde, possivelmente, se irá falar de um outro assunto que tem mexido com a imprensa cultural espanhola pela casualidade envolvida (ou o chamamento do eterno acaso): trata-se da estranha inspiração extra-sensorial e quase simbiótica entre Auster e Pedro Almodóvar quando o primeiro escrevia Homem na Escuridão e o segundo redigia o argumento para o seu próximo filme Abrazos Rotos (pode traduzir-se por Abraços Quebrados), fenómeno que foi antecedido por um fortíssimo ataque de cefaleias que quase imobilizaram o realizador espanhol no preciso momento em que ambos haviam combinado em Oviedo escrever um guião para o seu futuro filme (retirado do blogue de Almodóvar):

«Ao longo dos três dias que durou a nossa estadia em Oviedo [entrega, em Outubro de 2006, dos Prémios Príncipe das Astúrias] compartilhámos muitas situações, para além de comer e beber. Num desses jantares, quando já estávamos bastante animados, sondei-o sobre a possibilidade de escrevermos um guião juntos. De acordo com o seu programa de trabalho disse-me que não havia inconveniente, e eu pensava que podia levá-lo a cabo decorridos três ou quatro meses, não me importava de me deslocar a Nova Iorque.
Apenas isso, ao acabar a promoção em Janeiro de 2007
[do filme Voltar (Volver, 2006)] decido enfrentar o problema das minhas dores de cabeça, que haviam aumentado em 2006. A partir desse momento, enquanto fazia diversos tratamentos com um grupo de neurologistas, as dores aumentaram… enfim, a coisa é que durante o primeiro semestre de 2007 vivi aprisionado pelas cefaleias e pelos tratamentos. Não pude ir a Nova Iorque nem escrever com Paul Auster. Não obstante, cada um por seu lado escreveu duas histórias sobre narradores na escuridão. Uma situação tipicamente austeriana.» [destaque meu; tradução: AMC]

Porém, e regressando à costa atlântica ocidental, será decerto inescapável abordar o tema da crítica e da péssima recepção de A Vida Interior… pela comunidade lusa de críticos e não só. Lá fora a implacável Manohla Dargis – uma quase Kakutani do cinema – desancou, sem qualquer espécie de pruridos, no filme de Auster, terminando com o desabafo que “quanto menos dele se falar, melhor seria para Auster”.

Vi o filme depois ter ouvido e lido todo o chorrilho de zurzidelas nacionais e internacionais, profissionais e amadoras, e creio que não era motivo para tanto estardalhaço negativista. Está longe, bem longe, de ser um filme técnica e esteticamente perfeito, mas à mesma distância de segurança de um slapstick como vi rotulá-lo por muito boa e letrada gente.

2 comentários:

bloguista disse...

André, só passando pra te avisar deste novo webvídeo sobre Economia Binária no YouTube.

Abraços

André Moura e Cunha disse...

Obrigado, meu caro.
Vê-lo-ei de seguida.

Um grande abraço,
André