«Reflecti acerca disso ao longo de anos, e a única explicação mais ou menos razoável que encontrei foi esta – há qualquer coisa errada em mim, um qualquer defeito no meu mecanismo, uma peça avariada que impede a máquina de funcionar em condições. Não estou a falar de fraqueza moral. Estou a falar da minha mente – da minha constituição mental. Creio que agora estou um pouco melhor, o problema parece ter-se esbatido com a idade, mas naqueles tempos, quando eu tinha trinta e cinco anos, trinta e oito, quarenta, havia um sentimento que não me largava, o sentimento de que a minha vida nunca me tinha realmente pertencido, de que eu nunca fora realmente eu, de que eu nunca fora real. E, como não era real, não compreendia o efeito que as minhas acções poderiam ter nos outros, os danos que poderia causar, o sofrimento que poderia infligir às pessoas que me amavam.»
Paul Auster, Homem na Escuridão, p. 137.
[Alfragide: Asa, 1.ª edição, Novembro de 2008, 160 pp.; tradução de José Vieira de Lima; obra original: Man in the Dark, 2008.]
«Glenn Gould said, "Isolation is the indispensable component of human happiness."» [Contraponto] «How close to the self can we get without losing everything?»
Don DeLillo, “Counterpoint”, Brick, 2004.
domingo, 30 de novembro de 2008
Responsabilidade e indiferença*
*Dava um bom título para um romance de Jane Austen e até com uma boa abertura (da lavra desta mente torturada que vos escreve): É universalmente conhecido que, na posse de uma mente prodigiosa, um homem que atravessa a meia-idade deambula perigosamente pelo mundo sem tomar consciência dos terríveis actos que inflige aos que lhe estão mais próximos. (Título, talvez este: Impassiveness and Responsibility.)
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