Prova-se à saciedade que, como diz o Pedro Correia recorrentemente no seu Corta-Fitas, o futebol é o ópio do povo. Basta o decurso de dois singelos e aprazíveis dias sem futebol e a injecção brasileira de patriotismo eScolarizado perdeu a sua potência sedativa.
A recente efervescência entre os irascíveis blasfemos e o epifenómeno bloquisto-mediático Arrastão centra-se na medição do grau de malvadez dos regimes autocráticos de direita e de esquerda. Sugiro que para o efeito se crie uma nova disciplina no campo das ciências: a Autocratimetria.
Se por um lado há Hitler, Mussolini, Franco, Pinochet e se quiserem até Getúlio Vargas e Salazar, por outro temo Estaline, Ceausescu, Mao Tsé-Tung, Pol Pot… e fico-me por aqui.
Com isso, nota-se que a 1.ª Guerra Civil Lusa na blogosfera está em pleno período de incubação.
Meçam lás a pilinhas de direita e de esquerda e depois sistematizem a informação em tabelas de dupla entrada.
Vamos aos livros, que se faz tarde!
Aqui vai um livro que recomendo aos… hetero não homofóbicos (classe na qual me incluo), aos homofóbicos e hetero-de-pendor-marialva (aconselhando, simultaneamente, a ingestão de uma pastilha rosa de Xanax 0,5 mg antes da leitura e de uma violeta de 1 mg para depois), aos homo em geral, e aos Presto em particular.
Bem, isto foi para dizer que gostei da última prosa do Frederico Lourenço, «A Máquina do Arcanjo». Obra de não-ficção, de tom eminentemente confessional, onde o autor/narrador discorre, sem qualquer tipo de parcimónia ou de um excessivo pudor de Tartufo, sobre a sua devoção católica, as suas preferências sexuais e o seu período de transição da adolescência para a idade adulta, que, para o autor, representou a passagem do celibato auto-imposto para a vida sexual activa, dando a conhecer de que modo essa assunção afectou o seu trajecto profissional: abandonou o estudo da música e dedicou-se às letras, tendo enveredado por um estudo aprofundado da cultura helénica – tal como hoje o conhecemos.
Em A Máquina do Arcanjo aparece-nos um Lourenço mais solto, temerário até, se o compararmos com o Frederico de «Amar não acaba» (ed: Cotovia, 2004), mais reservado, cauteloso e explicativo.
Neste livro apesar de Frederico não descrever as cenas de sexo – à laia de um Brett Easton Ellis (recorrendo-se a um exemplo de um autor contemporâneo) e que confessa sentir algum pudor num possível exercício do género –, há toda uma tensão que se desprende no ar e que enxameia a sua leitura, porque construído sob uma putativa paridade entre casais heterossexuais e homossexuais, embora a censura social sentida na pele pelo próprio autor esteja sempre presente ao longo da narrativa.
Depois, tal como no Amar não acaba, o Frederico revela certos enlevos pessoais que me dizem muito; principalmente quando escritos pela pena de um alfacinha de gema – como é o caso – que só mais tarde descobriu o Porto, o Douro e o Minho, e que fazem palpitar o coração de um nortenho mais ou menos convicto da paixão pelas suas raízes, sem que com isso me refira aos tacanhos divisionismos e às apologias da guerrilha regional – isso fica para a clubite futebolística, da qual partilho.
Para acabar, e em jeito de sabatina, A Máquina do Arcanjo é um subtil exercício de resistência ao trauliteirismo homofóbico.
Referência completa:
Frederico Lourenço, A Máquina do Arcanjo, Cotovia, Abril de 2006, 96 pp.
A recente efervescência entre os irascíveis blasfemos e o epifenómeno bloquisto-mediático Arrastão centra-se na medição do grau de malvadez dos regimes autocráticos de direita e de esquerda. Sugiro que para o efeito se crie uma nova disciplina no campo das ciências: a Autocratimetria.
Se por um lado há Hitler, Mussolini, Franco, Pinochet e se quiserem até Getúlio Vargas e Salazar, por outro temo Estaline, Ceausescu, Mao Tsé-Tung, Pol Pot… e fico-me por aqui.
Com isso, nota-se que a 1.ª Guerra Civil Lusa na blogosfera está em pleno período de incubação.
Meçam lás a pilinhas de direita e de esquerda e depois sistematizem a informação em tabelas de dupla entrada.
Vamos aos livros, que se faz tarde!

Bem, isto foi para dizer que gostei da última prosa do Frederico Lourenço, «A Máquina do Arcanjo». Obra de não-ficção, de tom eminentemente confessional, onde o autor/narrador discorre, sem qualquer tipo de parcimónia ou de um excessivo pudor de Tartufo, sobre a sua devoção católica, as suas preferências sexuais e o seu período de transição da adolescência para a idade adulta, que, para o autor, representou a passagem do celibato auto-imposto para a vida sexual activa, dando a conhecer de que modo essa assunção afectou o seu trajecto profissional: abandonou o estudo da música e dedicou-se às letras, tendo enveredado por um estudo aprofundado da cultura helénica – tal como hoje o conhecemos.
Em A Máquina do Arcanjo aparece-nos um Lourenço mais solto, temerário até, se o compararmos com o Frederico de «Amar não acaba» (ed: Cotovia, 2004), mais reservado, cauteloso e explicativo.
Neste livro apesar de Frederico não descrever as cenas de sexo – à laia de um Brett Easton Ellis (recorrendo-se a um exemplo de um autor contemporâneo) e que confessa sentir algum pudor num possível exercício do género –, há toda uma tensão que se desprende no ar e que enxameia a sua leitura, porque construído sob uma putativa paridade entre casais heterossexuais e homossexuais, embora a censura social sentida na pele pelo próprio autor esteja sempre presente ao longo da narrativa.
Depois, tal como no Amar não acaba, o Frederico revela certos enlevos pessoais que me dizem muito; principalmente quando escritos pela pena de um alfacinha de gema – como é o caso – que só mais tarde descobriu o Porto, o Douro e o Minho, e que fazem palpitar o coração de um nortenho mais ou menos convicto da paixão pelas suas raízes, sem que com isso me refira aos tacanhos divisionismos e às apologias da guerrilha regional – isso fica para a clubite futebolística, da qual partilho.
Para acabar, e em jeito de sabatina, A Máquina do Arcanjo é um subtil exercício de resistência ao trauliteirismo homofóbico.
Referência completa:
Frederico Lourenço, A Máquina do Arcanjo, Cotovia, Abril de 2006, 96 pp.
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