quarta-feira, 7 de junho de 2006

Palhaçadas

Nota introdutória
Quando em Dezembro do ano passado iniciei este meu espaço na blogosfera, assumi que aqui se poderia escrever tudo sobre qualquer coisa. Não há tabus, nem compartimentos estanques. Todavia, no que à literatura diz respeito, adoptei a premissa, embora não revelada, de que só escreveria sobre aqueles livros que me houvessem conduzido ao espaço onírico e etéreo da arte da escrita, quer sejam ou não obras de ficção. É essa a dimensão verdadeiramente transcendental num livro, é um conceito aberto, forçosamente vasto nas suas carcterísticas semânticas. Em suma, tem que ver com o prazer que retirei da sua leitura, que não se mede pelos tradicionais conceitos académicos da boa e da má literatura, e tão-pouco por conceitos de metaliteratura. A apreciação é do meu domínio, subjectiva, por isso discutível.

O frontispício do último romance de Salman Rushdie publicado em Portugal – «Shalimar, o palhaço», Dom Quixote, Maio de 2006 – tem inscrito o panegírico critico-literário «O melhor romance de Rushdie desde Versículos Satânicos» atribuído ao Los Angeles Times. O autor da crítica é Jonathan Levi [sem ligação disponível].
Estas asserções de crítica comparativa são as tais frases assassinas, já que criam uma expectativa desmedida sobre o objecto em questão e frustram o seu utilizador na apreciação final.
Para contrabalançar deveria ter lido
a crítica de John Updike na revista The New Yorker e a descoroçoante e arrasadora análise da mãe do paroxismo da exigência literária, Michiko Kakutani, no periódico The New York Times. Assim, calculando a média, as minhas expectativas não prejudicariam a análise final.
Quanto ao livro propriamente dito, apenas refiro que não se trata de uma obra-prima, nem pode ser comparável ao excepcional «Versículos Satânicos». É extremamente longo e a espaços entediante e desgastante com um chorrilho de nomes de pessoas e locais impronunciáveis, especialmente visível nas 106 intermináveis páginas entre a página 63 e a página 168 (1.ª edição).
Bom, no entanto.

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