segunda-feira, 19 de junho de 2006

Cogumelos Mágicos

«One pill makes you larger
And one pill makes you small
And the ones that mother gives you
Don't do anything at all
Go ask Alice
When she's ten feet tall
»

Aconteceu-me enquanto o folheava. A cada página sorvida, efeitos de um cogumelo mágico iam-me consumindo a razão, mergulhando num torpor alucinogénio de euforia incontida, o Coelho Branco dos Jefferson Airplane toldava-me o bom senso que de mim poderia restar numa cadência de ritmos cada vez mais forte e visões, fogachos de luzes fosforescentes numa intermitência nauseante – Fincher manipulando O Jogo. Depois, Alice e os devaneios corporizados no coelho… um medo irrefreável pela suposta ferocidade do bicho, quiçá guardando ciosamente a caverna e abocanhado o infeliz temerário curioso pelos mistérios daquelas entranhas húmidas e viscosas que o odor exalado pelas feromonas fazia adivinhar. Era Python, Monty Python e a demanda do Santo Graal.

Pára, André! [aprendido com o verdadeiro jogador de futebol que fala em si na 3.ª pessoa]

John Updike - BrasilAh, a tetralogia do Coelho, Harry "Rabbit" Angstrom! Updike?
O romance de Tristão e Isolda, escrito por Joseph Bédier reconstituído a partir de textos medievais, é a base do romance, ou como afirma Updike no posfácio foi “o tom e a situação básica” (p. 254). No entanto, Updike confessa que retirou a “coragem e o colorido local da verdadeira ficção brasileira”, citando, por exemplo, Machado de Assis, Amado, Lispector, Rubem Fonseca.
Tal como em outras obras de Updike, damos por nós a questionar se o autor não estaria sob a influência de alucinogénios quando redigiu determinadas partes do livro. Há desvios de um cunho intensamente imaginoso e espectral que parecem prejudicar o normal curso narrativo, com algumas passagens muitas vezes duradouras, que só mais tarde percebemos que no fundo são o elo de ligação às prodigiosas iterações narrativas.
Falo do romance «Brasil» editado pela primeira vez em Portugal, ano de 2006, pela editora Civilização.
São vinte e dois anos que retratam um Brasil dos extremos, do rico e do pobre, do branco e do preto, do interior e do litoral, da extrema miséria das favelas e dos bairros luxuosos que coabitam a paredes meias na Cidade Maravilhosa, da opulência de Brasília à devastação das pessoas e das culturas do Mato Grosso à Amazónia.
É a história de um romance inaudito, que sobrevive às mais grotescas contrariedades pela inevitabilidade e pela solidez de um amor infinito, onde até a morte é encarada como um mero instrumento para a sua perpetuação.

A ler

Referência completa:
John Updike, Brasil, Civilização, Maio de 2006, 254 pp. [Tradução de Carmo Romão] (Brazil, 1994).

1 comentário:

Anónimo disse...

Rock 'n' roll will never die!
http://imigrante.blogspot.com