Quis a sorte ou o azar que partilhasse o lar com Paul. A celebridade do último cataloga-a, em primeiro lugar, como a mulher deste e, só depois, a notável romancista de apelido facilmente enrolável na língua lusa, Hustvedt.
Qualquer apresentação passa pela afirmação, em tom de lembrete ou como carta de recomendação, da sua condição de cônjuge do Mestre da narrativa nova-iorquina – o Woody Allen das palavras impressas, e este só não é o Auster da película de celulóide porque é o primogénito da ilustre e orgulhosa família da Grande Maçã.
«Aquilo Que Eu Amava» (Asa, Outubro de 2005) é o último romance de Siri Hustvedt, publicado em 2003 nos Estados Unidos sob o título «What I Loved».
Neste romance, constituído por 3 partes simultaneamente intercomunicáveis e distintas, Siri pinta o quadro da elite cultural que vivifica e que ao mesmo tempo se alimenta de Nova Iorque, como num processo químico onde nada jamais se perderá. Parte do amor pela arte como a materialização do apego à vida e da solidificação dos laços de sangue que não resultam de uma elementar miscigenação genética, mas antes de um todo complexo e sincronizado, produto fiel de uma construção abstracta de sentimentos, de afectos, de cumplicidades e de atitudes francas de pura partilha.
Siri conta-nos a vida como ela é: um encadeamento de acasos a que o tempo se encarrega por lhe dar uma consistência, é a nossa história.
Porém, a sua narrativa não assenta nessa sucessão de acasos, mas na dolorosa percepção da fragilidade da nossa vivência, de um quotidiano preso por arames, como num demorado jogo de xadrez onde, após cada passo dado, dificilmente conhecemos a decisão que advirá da outra parte que interage nessa dialéctica.
É uma história em 3 actos dramática porque verosímil, comovente e arrebatadora porque traduz fielmente os nossos desassossegos, mais ou menos conscientes, perante a necessária adaptação do eu à vida em sociedade.
O livro, apesar de extenso, lê-se de uma só penada, onde chegam a coexistir o nó na garganta e a sentida hilaridade. O início do 2.º acto – chamemos-lhe assim – vergou-me perante o peso das lágrimas que rebentaram qualquer resistência de estúpido macho latino: homem não chora!
De leitura imprescindível!
Termino com a firme convicção de que algures em Brooklyn, Nova Iorque, haverá uma fonte que jorra inspiração, criatividade e genialidade.
Qualquer apresentação passa pela afirmação, em tom de lembrete ou como carta de recomendação, da sua condição de cônjuge do Mestre da narrativa nova-iorquina – o Woody Allen das palavras impressas, e este só não é o Auster da película de celulóide porque é o primogénito da ilustre e orgulhosa família da Grande Maçã.
«Aquilo Que Eu Amava» (Asa, Outubro de 2005) é o último romance de Siri Hustvedt, publicado em 2003 nos Estados Unidos sob o título «What I Loved».
Neste romance, constituído por 3 partes simultaneamente intercomunicáveis e distintas, Siri pinta o quadro da elite cultural que vivifica e que ao mesmo tempo se alimenta de Nova Iorque, como num processo químico onde nada jamais se perderá. Parte do amor pela arte como a materialização do apego à vida e da solidificação dos laços de sangue que não resultam de uma elementar miscigenação genética, mas antes de um todo complexo e sincronizado, produto fiel de uma construção abstracta de sentimentos, de afectos, de cumplicidades e de atitudes francas de pura partilha.
Siri conta-nos a vida como ela é: um encadeamento de acasos a que o tempo se encarrega por lhe dar uma consistência, é a nossa história.
Porém, a sua narrativa não assenta nessa sucessão de acasos, mas na dolorosa percepção da fragilidade da nossa vivência, de um quotidiano preso por arames, como num demorado jogo de xadrez onde, após cada passo dado, dificilmente conhecemos a decisão que advirá da outra parte que interage nessa dialéctica.
É uma história em 3 actos dramática porque verosímil, comovente e arrebatadora porque traduz fielmente os nossos desassossegos, mais ou menos conscientes, perante a necessária adaptação do eu à vida em sociedade.
O livro, apesar de extenso, lê-se de uma só penada, onde chegam a coexistir o nó na garganta e a sentida hilaridade. O início do 2.º acto – chamemos-lhe assim – vergou-me perante o peso das lágrimas que rebentaram qualquer resistência de estúpido macho latino: homem não chora!
De leitura imprescindível!
Termino com a firme convicção de que algures em Brooklyn, Nova Iorque, haverá uma fonte que jorra inspiração, criatividade e genialidade.
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