Por diversas vezes insurgi-me neste blogue contra a supostamente inevitável política dos rótulos, como se o comportamento humano seguisse uma linearidade mensurável ou, declarando a sua incontestável impossibilidade, se pudesse representar por uma nuvem de pontos reveladores de uma tendência sujeitável a um processo regressivo, com resultados estatisticamente significativos e uma curta margem de erro.
Não me refiro ao acto de questionar outrem sobre determinada cor, crença ou tendência. Refiro-me, isso sim, à perigosa presunção, transformada pela febre rotuladora, sobre o carácter de alguém que nem sequer conhecemos ou que nem sequer demos a devida oportunidade para conhecer. Rotulamos, abjuramos, enlevamos… engavetamos os demais pela palavra professada, pelo gesto meramente circunstancial, pelo sentimento libertado quando as amarras atadas pelo nosso polícia interior não são suficientemente sólidas para o deter.
São os perigosos silogismos que não obstamos a adoptar como máximas valorativas de um ser humano que connosco partilha um mesmo espaço.
Se demonstro as minhas preocupações sociais, sou de esquerda. Se professo a livre circulação de capitais e a intervenção mínima do Estado na economia, sou de direita. Se me manifesto contra a lei que penaliza a interrupção voluntária da gravidez até às doze semanas, sou de esquerda. Se considero inconcebível a adopção de crianças por casais homossexuais, sou de direita.
E poderia continuar, rumando pelo mesmo trilho rotulador, procedendo apenas a uma mera substituição dos atributos: ateu, católico, muçulmano, etc.; hetero, homo ou bissexual;...
A esses rotuladores recomendo a leitura de um conto de um tal William Sidney Porter – que se dava a conhecer por Oliver Henry, ou preferencialmente por O. Henry –, chamado “A teoria e o cão”.
Nota: no Data aparecerá em breve uma adaptação pífia para os dias de hoje do conto de O. Henry supramencionado. Será um pseudoconto redigido por este escriba que mantém estes blogues.
Não me refiro ao acto de questionar outrem sobre determinada cor, crença ou tendência. Refiro-me, isso sim, à perigosa presunção, transformada pela febre rotuladora, sobre o carácter de alguém que nem sequer conhecemos ou que nem sequer demos a devida oportunidade para conhecer. Rotulamos, abjuramos, enlevamos… engavetamos os demais pela palavra professada, pelo gesto meramente circunstancial, pelo sentimento libertado quando as amarras atadas pelo nosso polícia interior não são suficientemente sólidas para o deter.
São os perigosos silogismos que não obstamos a adoptar como máximas valorativas de um ser humano que connosco partilha um mesmo espaço.
Se demonstro as minhas preocupações sociais, sou de esquerda. Se professo a livre circulação de capitais e a intervenção mínima do Estado na economia, sou de direita. Se me manifesto contra a lei que penaliza a interrupção voluntária da gravidez até às doze semanas, sou de esquerda. Se considero inconcebível a adopção de crianças por casais homossexuais, sou de direita.
E poderia continuar, rumando pelo mesmo trilho rotulador, procedendo apenas a uma mera substituição dos atributos: ateu, católico, muçulmano, etc.; hetero, homo ou bissexual;...
A esses rotuladores recomendo a leitura de um conto de um tal William Sidney Porter – que se dava a conhecer por Oliver Henry, ou preferencialmente por O. Henry –, chamado “A teoria e o cão”.
Nota: no Data aparecerá em breve uma adaptação pífia para os dias de hoje do conto de O. Henry supramencionado. Será um pseudoconto redigido por este escriba que mantém estes blogues.
2 comentários:
Gostei... e vou citar. Abraço
Obrigado, Pedro.
Um abraço
Enviar um comentário