Hoje (ontem) na 2: foi para o ar a 4.ª parte do fantástico documentário de 1999 de autoria de Martin Scorsese «A Minha Viagem a Itália», cujo título se inspirou no filme dilacerante – porque é uma cópia perfeita da realidade, da insidiosa modorra conjugal que o tempo, indelevelmente, vai construindo – de Roberto Rosselini «Viagem a Itália», com a notável parelha George Sanders e Ingrid Bergman.
O documentário, como Scorsese explica no fim, é o seu testemunho de como os grandes filmes dos mestres do cinema italiano o inspiraram na sua carreira cinematográfica. Fala de Fellini, Visconti, Rosselini, Antonioni e De Sica. Todavia, não fala das suas carreiras sob um, mais do que esperado, ponto de vista abrangente – vide, como exemplo flagrante do que acabei de referir, o facto de nem sequer mencionar «O Leopardo» de Visconti. Scorsese fala de filmes, de movimentos, diálogos e silêncios, enquadramentos cinematográficos, expressões, sem preocupações científicas ou académicas; trata-se apenas de um testemunho do prazer retirado do visionamento das obras, do lado lúdico da sétima arte que não se aprende nos livros, aprende-se vendo-os na grande tela.
O documentário de 250 minutos termina com o magistral filme de Frederico Fellini «8 ½» que, a par de «Obsessão» o primeiro filme de Luchino Visconti, Scorsese confessa tratar-se de um dos melhores filmes da história do cinema. Como ele diz é o filme sobre a arte do filme, que capta a angústia criadora do realizador na sua plenitude.
De 8 ½ há, para mim, vários momentos inesquecíveis, um dos quais é a sequência surreal do acto de amestramento das mulheres que rodeiam Guido (Marcello Mastroianni).
Depois, há as frases que ficam:
«La felicità sarebbe poter dire la verità senza far piangere nessuno» (pensamento de Guido)
(A felicidade é o poder de dizer a verdade sem magoar ninguém) [Tradução livre, mantive a dupla negação por fidelidade à frase original]
Guido dirige-se ao Cardeal, a quem pede um conselho.
Guido: «Eminenza, io non sono felice».
Cardeal: «Perché dovrebbe essere felice? Il suo compito non è questo. Chi le ha detto che si viene al mondo per essere felici? Dice Origene nelle sue omelie: “Extra ecclesiam nulla salus” – fuori della chiesa non c’è salvezza»
(Guido: Eminência, eu não sou feliz.
Cardeal: Por que razão deverias ser feliz? A tua tarefa não é esta. Quem é que disse que se vem ao mundo para se ser feliz? Orígenes disse na sua homilia: “…” – fora da Igreja não há salvação».) [Tradução livre]
Finalmente, há a curiosidade sobre o porquê do título «8 ½»:
Reforçando a componente autobiográfica da obra, este filme é a oitava longa-metragem de Felinni – por curiosidade a sétima foi La Dolce Vita de 1960 – que, ademais, havia realizado dois segmentos, curtas-metragens, antes de 1963 para os filmes L’amore in città (1953) e Boccaccio '70 (1962), que Fellini considerou em conjunto como ½ filme.
O documentário, como Scorsese explica no fim, é o seu testemunho de como os grandes filmes dos mestres do cinema italiano o inspiraram na sua carreira cinematográfica. Fala de Fellini, Visconti, Rosselini, Antonioni e De Sica. Todavia, não fala das suas carreiras sob um, mais do que esperado, ponto de vista abrangente – vide, como exemplo flagrante do que acabei de referir, o facto de nem sequer mencionar «O Leopardo» de Visconti. Scorsese fala de filmes, de movimentos, diálogos e silêncios, enquadramentos cinematográficos, expressões, sem preocupações científicas ou académicas; trata-se apenas de um testemunho do prazer retirado do visionamento das obras, do lado lúdico da sétima arte que não se aprende nos livros, aprende-se vendo-os na grande tela.
O documentário de 250 minutos termina com o magistral filme de Frederico Fellini «8 ½» que, a par de «Obsessão» o primeiro filme de Luchino Visconti, Scorsese confessa tratar-se de um dos melhores filmes da história do cinema. Como ele diz é o filme sobre a arte do filme, que capta a angústia criadora do realizador na sua plenitude.
De 8 ½ há, para mim, vários momentos inesquecíveis, um dos quais é a sequência surreal do acto de amestramento das mulheres que rodeiam Guido (Marcello Mastroianni).
Depois, há as frases que ficam:
«La felicità sarebbe poter dire la verità senza far piangere nessuno» (pensamento de Guido)
(A felicidade é o poder de dizer a verdade sem magoar ninguém) [Tradução livre, mantive a dupla negação por fidelidade à frase original]
Guido dirige-se ao Cardeal, a quem pede um conselho.
Guido: «Eminenza, io non sono felice».
Cardeal: «Perché dovrebbe essere felice? Il suo compito non è questo. Chi le ha detto che si viene al mondo per essere felici? Dice Origene nelle sue omelie: “Extra ecclesiam nulla salus” – fuori della chiesa non c’è salvezza»
(Guido: Eminência, eu não sou feliz.
Cardeal: Por que razão deverias ser feliz? A tua tarefa não é esta. Quem é que disse que se vem ao mundo para se ser feliz? Orígenes disse na sua homilia: “…” – fora da Igreja não há salvação».) [Tradução livre]
Finalmente, há a curiosidade sobre o porquê do título «8 ½»:
Reforçando a componente autobiográfica da obra, este filme é a oitava longa-metragem de Felinni – por curiosidade a sétima foi La Dolce Vita de 1960 – que, ademais, havia realizado dois segmentos, curtas-metragens, antes de 1963 para os filmes L’amore in città (1953) e Boccaccio '70 (1962), que Fellini considerou em conjunto como ½ filme.
2 comentários:
André, vou pedir-lhe emprestada esta bela frase para o Corta-Fotas, seguida de linque ao texto. Ok? Abraço.
Força, Pedro!
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