quinta-feira, 13 de julho de 2006

No imo pelas palavras

Lord ByronExcelentes textos de natureza eminentemente ensaística do Sérgio Lavos e da Susana Viegas, no blogue Auto-Retrato*, que discorrem sobre o estado de conflito interno ou de desassossego da alma somatizado nas obras literárias de ficção ou na essência do pensamento filosófico dos autores.
Lembro-me sempre da analogia freudiana da panela de pressão e do doloroso processo de constrição dos nossos impulsos mais frementes, cuja denegação implica o seu recalcamento, sendo depois compensados pelas manifestações artísticas, como válvulas de escape, que contêm o código genético do nosso imo, ou se se preferir, da nossa natureza irrevogavelmente humana.
Todavia, é conveniente reforçar que esses impulsos não são apenas fruto de um processo de aprendizagem que nos é inculcado de forma directa e indutora por aqueles que têm responsabilidades nos nossos crescimento e formação como seres humanos, a própria experiência de vida, dos conhecimentos de uma forma declaradamente empírica tem o seu papel nessa modelação – chamemos-lhe assim.
Embora eu progrida para um grau superlativo de cepticismo das minhas certezas, tenho que convir que a trágica morte do meu irmão, cuja dor do luto me acompanhará para todo o sempre, transformou-me num leitor compulsivo, num perscrutador do mundo e num relativizador das denominadas coisas sérias da vida.

Cito Byron:

My slumbers – if I slumber – are not sleep,
But a continuance of enduring thought,
Which then I can resist not: in my heart
There is a vigil, and these eyes but close
To look within; and yet I live, and bear
The aspect and the form of breathing men.
But grief should be the instructor of the wise;
Sorrow is knowledge: they who know the most
Must mourn the deepest o'er the fatal truth,
The Tree of Knowledge is not that of Life.


Da peça de teatro de
Lord Byron, Manfred, 1816, Acto I, Cena I: 3-12.

*Nota: apesar de eu não ter voto na matéria, porque sou um mero leitor – assíduo, é certo! –, prefiro a grafia Auto-Retrato. À portuguesa e de forma puritana seria, na realidade, Auto-retrato. Todavia, na língua inglesa as palavras que compõem os títulos vêm sempre grafadas com letra maiúscula, exceptuando-se os verbos, preposições e advérbios, mesmo que a palavra seja uma locução, como é o caso. Mas o melhor será perguntar ao nosso especialista na matéria Luís Carmelo (ligação para ser explorada pelo Technorati).

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