quarta-feira, 26 de julho de 2006

O negrume do ocaso e a jubilosa esperança

Morte em Veneza (carregar na imagem para ampliar)

Fotograma do filme Morte em Veneza (1971) de Luchino Visconti [fotograma retirado da esplendorosa e esmagadora sequência final, na qual Visconti recorre a Gustav Mahler e a toda a sua mestria materializada no clímax do Adagietto da sua 5.ª Sinfonia]

«
A praia estava inóspita. Sobre a planura extensa de água que separava a praia dos primeiros bancos de areia, corriam aguaceiros que enrugavam a superfície. O Outono, uma sensação de fim da estação, abatera-se já sobre a estância, antes tão viva e colorida, agora quase abandonada, e já ninguém limpava sequer a areia. Junto ao mar estava uma máquina fotográfica, aparentemente sem dono, sobre um tripé, e o pano negro que dela pendia esvoaçava no vento frio.
(…)
Separado da terra firme por uma estria grande de água, (…) caminhava, uma aparição desligada, em extremo isolamento (…) Parou de novo. E de repente, por uma recordação talvez, por um impulso, voltou a cabeça, uma mão apoiada na anca, num movimento gracioso do torso, e olhou sobre o ombro para a margem. Sentado na margem, Aschenbach observava-o (…) parecia-lhe que o psicagogo pálido e amável lhe sorria, lhe acenava; como se, libertando a mão da anca, apontasse para longe, flutuasse à sua frente na imensidão promissora.»
Thomas Mann, A Morte em Veneza, Relógio D’Água, Junho de 2004, pp. 111-114.

2 comentários:

Anónimo disse...

grande filme
excelente livro

Anónimo disse...

Arrebatadores.
Mann, Mahler e Visconti: com esta tripla...