Não, não vou aqui dissertar, à laia de Kierkegaard, sobre as considerações da ética e da fé, ou sobre a resignação perante o divino quando não há razão humana que nos permita explicar a angústia que advém do desconhecimento ou do perene estádio de dúvida quando o Homem enfrenta o infinito.
Aqui, apenas irei deixar o meu testemunho sobre o romance distópico de Margaret Atwood «Órix e Crex – O Último Homem», que, de forma imediata, deixa em aberto algumas questões sobre os avanços da genética e da ciência médica perante a diluição ou simples transmutação dos padrões morais de uma sociedade, onde se busca o sagrado através do esforço racional de controlo absoluto das incógnitas que regulam a existência humana, e do modo que elas interagem com a natureza; e, por outro lado, de uma forma transversal a todo o romance – quase que funcionando como subtexto –, a criação de uma nova ordem, de uma nova cosmogonia e da progressiva perda da inocência à medida que os desafios da natureza se tornam mais complexos e aparentemente inextricáveis.
Atwood descreve esse mundo novo de uma forma brutal, até grotesca, cujas verosimilhança e possível concretização nos deixa perfeitamente à beira de um estado de desassossego perante a constatação dos últimos avanços da ciência e da desregulação imanente ao próprio processo tecnológico, porque, por um lado, anda sempre um passo à frente da consciencialização colectiva dos seus efeitos e, por outro, avança a custo das gigantescas corporações da genética e da indústria farmacêutica de fins predominantemente lucrativos, onde imperam a eficiência e eficácia organizacionais, o poder e a cupidez em detrimento do suposto e propalado bem comum.
Órix e Crex, é uma violenta efabulação sobre a necessidade de reinvenção do mundo, no qual se entrecruzam o sagrado e o profano, o medo pelo infinito ou pelo desconhecido, e onde até poderemos descortinar a presença de Deus através das figuras bíblicas de Abraão ou de Moisés.
Com este romance, a escritora canadiana Margaret Atwood foi, em 2003 e pela 5.ª vez (as outras: 1986, 1989, 1996 e 2000), finalista (shortlist) do Booker Prize – no ano em que venceu, de forma incontestável o fabuloso romance de DBC Pierre «Vernon Little – O Bode Expiatório» –, prémio que venceu em 2000 com o romance «O Assassino Cego».
Órix e Crex é um romance extenso, para se ler devagar e sem ruído exterior.
Pobre Jimmy, o Homem das Neves!
Referência completa:
Margaret Atwood, Órix e Crex – O Último Homem, Asa, Abril de 2006, 394 pp. [Tradução de Ana Maria Chaves e Ana Mafalda Costa] (Oryx and Crake, 2003).
Aqui, apenas irei deixar o meu testemunho sobre o romance distópico de Margaret Atwood «Órix e Crex – O Último Homem», que, de forma imediata, deixa em aberto algumas questões sobre os avanços da genética e da ciência médica perante a diluição ou simples transmutação dos padrões morais de uma sociedade, onde se busca o sagrado através do esforço racional de controlo absoluto das incógnitas que regulam a existência humana, e do modo que elas interagem com a natureza; e, por outro lado, de uma forma transversal a todo o romance – quase que funcionando como subtexto –, a criação de uma nova ordem, de uma nova cosmogonia e da progressiva perda da inocência à medida que os desafios da natureza se tornam mais complexos e aparentemente inextricáveis.
Atwood descreve esse mundo novo de uma forma brutal, até grotesca, cujas verosimilhança e possível concretização nos deixa perfeitamente à beira de um estado de desassossego perante a constatação dos últimos avanços da ciência e da desregulação imanente ao próprio processo tecnológico, porque, por um lado, anda sempre um passo à frente da consciencialização colectiva dos seus efeitos e, por outro, avança a custo das gigantescas corporações da genética e da indústria farmacêutica de fins predominantemente lucrativos, onde imperam a eficiência e eficácia organizacionais, o poder e a cupidez em detrimento do suposto e propalado bem comum.
Órix e Crex, é uma violenta efabulação sobre a necessidade de reinvenção do mundo, no qual se entrecruzam o sagrado e o profano, o medo pelo infinito ou pelo desconhecido, e onde até poderemos descortinar a presença de Deus através das figuras bíblicas de Abraão ou de Moisés.
Com este romance, a escritora canadiana Margaret Atwood foi, em 2003 e pela 5.ª vez (as outras: 1986, 1989, 1996 e 2000), finalista (shortlist) do Booker Prize – no ano em que venceu, de forma incontestável o fabuloso romance de DBC Pierre «Vernon Little – O Bode Expiatório» –, prémio que venceu em 2000 com o romance «O Assassino Cego».
Órix e Crex é um romance extenso, para se ler devagar e sem ruído exterior.
Pobre Jimmy, o Homem das Neves!
Referência completa:
Margaret Atwood, Órix e Crex – O Último Homem, Asa, Abril de 2006, 394 pp. [Tradução de Ana Maria Chaves e Ana Mafalda Costa] (Oryx and Crake, 2003).
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