Com o natural evoluir do meu processo de envelhecimento fui construindo várias certezas, apesar de os graus de dúvida, de inquietação e de indignação terem crescido de forma exponencial.
Significará isto que as certezas que logrei alcançar são apenas o produto do agravamento inexorável das minhas dúvidas?
Não tenho resposta, nem há uma base empírica que me permita inferir para o todo intrincado das minhas ondas cerebrais.
Na minha juventude mais púbere rotulava-me ufanamente de direita. Votaria claramente Horta contra Soares, Soares Carneiro contra Eanes, PSD ou CDS contra PS e por aí em diante.
À medida que o tempo ia passando, superada a fase de balbúrdia hormonal, verifiquei que havia concebido determinada filosofia política, guiando-me por um paradigma concebido pelo meu processo de amadurecimento. Prontifiquei-me a estabelecer um rol de valores e de princípios que resultavam da minha parca experiência e do meu indelével sistema de crenças: da justiça social à livre iniciativa privada, da auto-regulação do mercado, que assim, de forma inabalável, caminharia para o equilíbrio, à mestiçagem dos conceitos de capital e de trabalho.
Comecei a entender que a Justiça e o seu funcionamento seriam o pilar, a base, o suporte de todo esse sistema, onde porém se entrecruza um manancial de outros pilares: a educação e a cultura, por exemplo. Em suma, a interacção desses pilares contribui para a construção de uma sociedade justa no seu entendimento mais amplo. Não se confunda, porém, por deriva legislativa e regulamentadora, paradoxalmente castradora do direito natural à liberdade, seja ela de que tipo for.
Qual é, então, a razão desta verborreia toda?
O motivo advém desta dura constatação: só se consegue ouvir um enorme silêncio por parte dos meus supostos correligionários a propósito da actuação de um energúmeno, ariano de tez morena, mediterrânico, aparentemente braquicéfalo, que incita à violência e à guerrilha urbana; professa o racismo, o anti-semitismo, a homofobia, enfim, o nazismo; clama por Hitler, Hess ou Goebbels; ameaça os imigrantes e repete ad naseum – aliás, como os seus mentores – argumentos como a imigração e o índice de criminalidade, a insegurança e a falta de intensidade ou de virulência das forças policiais, a babilónia de raças e a perda de identidade nacional.
Onde está a suposta direita que havia idealizado?
Onde estão as habituais palavras fortes de condenação?
Por que motivo se fala do assunto recorrendo-se a uma ignominiosa fuga para a frente, apontando-se o dedo à esquerda que não condena os actos de similar baixeza moral praticados pelos torcionários partidários da sua ideologia?
Sob o ponto de vista moral, até por uma questão de diferenciação perante os nossos putativos adversários de ideologia política, não deveria a direita ser a primeira a condenar, repudiar e afastar eventuais libelos de assentimento, quando aquele energúmeno apareceu de caçadeira em riste na famosa reportagem e proferiu nesse mesmo dia e nos seguintes aquelas abjecções corporizadas em palavras de ódio ou de incitamento à subversão dos princípios de um estado direito?
Quo vadis direita portuguesa?
Nota: Há um blogue de pendor xenófobo, racista e neonazi – o qual, por razões óbvias, aqui não o publicitarei – que ostenta uma frase em epígrafe, sabem de quem?
Não, não é de Hitler, Mussolini, Franco ou Salazar. É de Orwell, George Orwell!
Se motivos faltassem, daria para acreditar em alguém com este nível de iliteracia ou, para ser mais correcto, de analfabetismo funcional?
Significará isto que as certezas que logrei alcançar são apenas o produto do agravamento inexorável das minhas dúvidas?
Não tenho resposta, nem há uma base empírica que me permita inferir para o todo intrincado das minhas ondas cerebrais.
Na minha juventude mais púbere rotulava-me ufanamente de direita. Votaria claramente Horta contra Soares, Soares Carneiro contra Eanes, PSD ou CDS contra PS e por aí em diante.
À medida que o tempo ia passando, superada a fase de balbúrdia hormonal, verifiquei que havia concebido determinada filosofia política, guiando-me por um paradigma concebido pelo meu processo de amadurecimento. Prontifiquei-me a estabelecer um rol de valores e de princípios que resultavam da minha parca experiência e do meu indelével sistema de crenças: da justiça social à livre iniciativa privada, da auto-regulação do mercado, que assim, de forma inabalável, caminharia para o equilíbrio, à mestiçagem dos conceitos de capital e de trabalho.
Comecei a entender que a Justiça e o seu funcionamento seriam o pilar, a base, o suporte de todo esse sistema, onde porém se entrecruza um manancial de outros pilares: a educação e a cultura, por exemplo. Em suma, a interacção desses pilares contribui para a construção de uma sociedade justa no seu entendimento mais amplo. Não se confunda, porém, por deriva legislativa e regulamentadora, paradoxalmente castradora do direito natural à liberdade, seja ela de que tipo for.
Qual é, então, a razão desta verborreia toda?
O motivo advém desta dura constatação: só se consegue ouvir um enorme silêncio por parte dos meus supostos correligionários a propósito da actuação de um energúmeno, ariano de tez morena, mediterrânico, aparentemente braquicéfalo, que incita à violência e à guerrilha urbana; professa o racismo, o anti-semitismo, a homofobia, enfim, o nazismo; clama por Hitler, Hess ou Goebbels; ameaça os imigrantes e repete ad naseum – aliás, como os seus mentores – argumentos como a imigração e o índice de criminalidade, a insegurança e a falta de intensidade ou de virulência das forças policiais, a babilónia de raças e a perda de identidade nacional.
Onde está a suposta direita que havia idealizado?
Onde estão as habituais palavras fortes de condenação?
Por que motivo se fala do assunto recorrendo-se a uma ignominiosa fuga para a frente, apontando-se o dedo à esquerda que não condena os actos de similar baixeza moral praticados pelos torcionários partidários da sua ideologia?
Sob o ponto de vista moral, até por uma questão de diferenciação perante os nossos putativos adversários de ideologia política, não deveria a direita ser a primeira a condenar, repudiar e afastar eventuais libelos de assentimento, quando aquele energúmeno apareceu de caçadeira em riste na famosa reportagem e proferiu nesse mesmo dia e nos seguintes aquelas abjecções corporizadas em palavras de ódio ou de incitamento à subversão dos princípios de um estado direito?
Quo vadis direita portuguesa?
Nota: Há um blogue de pendor xenófobo, racista e neonazi – o qual, por razões óbvias, aqui não o publicitarei – que ostenta uma frase em epígrafe, sabem de quem?
Não, não é de Hitler, Mussolini, Franco ou Salazar. É de Orwell, George Orwell!
Se motivos faltassem, daria para acreditar em alguém com este nível de iliteracia ou, para ser mais correcto, de analfabetismo funcional?
3 comentários:
camarada, não há limite de idade para te passares para o lado certo ;).
um abraço assim a dar para o vermelhusco, vá
Isso poderá ser considerado proselitismo!
Um abraço a dar para o incolor :)
Ter dúvidas é bom, AMC, com elas sempre se aprende alguma coisa, que é o que devíamos andar todos a fazer por cá. Não queira ser como o Cavaco, não queira ter certezas como ele, e não queira ter desdém pela esquerda, como ele. Já deu para perceber que a minha tendência vai para o lado esquerdo e receio até que não tenha cura, mas não ligo. Gostei do seu post e sempre lhe digo que os nossos políticos se excitam muito a vincar as diferenças (frequentemente artificiais), como pretexto para não resolverem os problemas do país. Que é para isso que nós, cidadãos, lhes pagamos e fechamos os olhos a muitas das aldrabices que nos impingem.
Um abraço com as cores todas, que é o que interessa.
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