O romance «Época de migração para norte» do sudanês Al-Tayyeb Salih foi publicado pela primeira vez em Árabe, corria o ano de 1966, numa revista libanesa chamada Hiwar – que significa “Diálogo”. Todavia, a clique política sudanesa apressou-se, desde logo, a condenar o romance – tanto a facção islamita como a facção comunista –, apesar de haver sido banido apenas 25 anos após a sua publicação. Todavia, o acto de repúdio teve repercussões imediatas nas restantes teocracias do mundo árabe que levou, por exemplo, ao seu banimento do Egipto durante 30 anos.
Foi traduzido para russo e para hebraico, tendo-se transformado rapidamente num bestseller em Israel.
Em 1969 a obra foi traduzida para inglês e publicada pela Heinemann, a qual foi considerada pela crítica como um livro acessório. Em 1972 foi traduzida para Francês e publicado em França, onde foi bem acolhido pela crítica, convertendo-se, rapidamente, num sucesso de vendas.
Neste romance, Tayyeb Salih relata o choque civilizacional entre as culturas ocidentais e a cultura árabe. Fala-nos de dois homens – o narrador e o personagem principal, Mustafá Saíd – com destinos diferentes, porém com um tronco comum educacional no Sudão profundo que se digladia com a posterior formação fortemente europeísta, resultante da sua emigração para norte – aqui como símbolo do mundo civilizado – mais concretamente para Inglaterra.
Depois de uma tenebrosa e tumultuosa permanência em Inglaterra, Mustafá regressa ao Sudão e instala-se na aldeia do narrador, onde anos mais tarde se conhecem, após o regresso deste último à sua terra Natal.
Aqui começa a história, com as tenebrosas confissões de Mustafá sobre a sua vida em Londres, pondo em confronto dois modelos civilizacionais profundamente antagónicos – um de raiz judaico-cristã e o outro sob o domínio do islamismo – no que diz respeito a assuntos tão putativamente triviais, como o sexo, o matrimónio, o papel das mulheres na sociedade e a forma de encarar a morte. Por outro lado, põe a nu a enorme dicotomia do Sudão rural subdesenvolvido e do Sudão de Cartum dominado por uma classe política corrupta e desinteressada do estado de miséria em que se encontram os seus concidadãos, sistema político esse que ia proliferando pelo terceiro mundo.
A atracção do mundo ocidental pela desconhecida cultura oriental e as crueza e perversidade de um Sudão cuja vida é orientada pelos preceitos islâmicos mais ortodoxos, são duas realidades que se entrecruzam mas não se encaixam, cujo corolário natural e impassivelmente aceite é a violência.
Por tudo isto e apesar de já ter sido publicado há 40 anos, no momento em que as tensões regionais culminaram com a eclosão da Guerra dos Seis Dias, este romance revela uma pertinência e uma actualidade que o convertem de leitura quase obrigatória para se entender parte do fundamento das atrocidades que hoje em dia são cometidas em nome da fé.
Época de migração para norte é um romance de fácil leitura e com uma trama deveras entusiasmante.
Referência completa:
Al-Tayyeb Salih, Época de migração para norte, Cavalo de Ferro, Maio de 2006, 163 pp. [Tradução do árabe por Raquel Carapinha] (dispenso-me a colocar aqui o título original da obra em árabe, publicada em 1966)
Em 1969 a obra foi traduzida para inglês e publicada pela Heinemann, a qual foi considerada pela crítica como um livro acessório. Em 1972 foi traduzida para Francês e publicado em França, onde foi bem acolhido pela crítica, convertendo-se, rapidamente, num sucesso de vendas.
Neste romance, Tayyeb Salih relata o choque civilizacional entre as culturas ocidentais e a cultura árabe. Fala-nos de dois homens – o narrador e o personagem principal, Mustafá Saíd – com destinos diferentes, porém com um tronco comum educacional no Sudão profundo que se digladia com a posterior formação fortemente europeísta, resultante da sua emigração para norte – aqui como símbolo do mundo civilizado – mais concretamente para Inglaterra.
Depois de uma tenebrosa e tumultuosa permanência em Inglaterra, Mustafá regressa ao Sudão e instala-se na aldeia do narrador, onde anos mais tarde se conhecem, após o regresso deste último à sua terra Natal.
Aqui começa a história, com as tenebrosas confissões de Mustafá sobre a sua vida em Londres, pondo em confronto dois modelos civilizacionais profundamente antagónicos – um de raiz judaico-cristã e o outro sob o domínio do islamismo – no que diz respeito a assuntos tão putativamente triviais, como o sexo, o matrimónio, o papel das mulheres na sociedade e a forma de encarar a morte. Por outro lado, põe a nu a enorme dicotomia do Sudão rural subdesenvolvido e do Sudão de Cartum dominado por uma classe política corrupta e desinteressada do estado de miséria em que se encontram os seus concidadãos, sistema político esse que ia proliferando pelo terceiro mundo.
A atracção do mundo ocidental pela desconhecida cultura oriental e as crueza e perversidade de um Sudão cuja vida é orientada pelos preceitos islâmicos mais ortodoxos, são duas realidades que se entrecruzam mas não se encaixam, cujo corolário natural e impassivelmente aceite é a violência.
Por tudo isto e apesar de já ter sido publicado há 40 anos, no momento em que as tensões regionais culminaram com a eclosão da Guerra dos Seis Dias, este romance revela uma pertinência e uma actualidade que o convertem de leitura quase obrigatória para se entender parte do fundamento das atrocidades que hoje em dia são cometidas em nome da fé.
Época de migração para norte é um romance de fácil leitura e com uma trama deveras entusiasmante.
Referência completa:
Al-Tayyeb Salih, Época de migração para norte, Cavalo de Ferro, Maio de 2006, 163 pp. [Tradução do árabe por Raquel Carapinha] (dispenso-me a colocar aqui o título original da obra em árabe, publicada em 1966)
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