Como se materializa a solidão numa pessoa que não está só? Qual é a razão dessa angústia intermitente que se somatiza num aperto da garganta?
Lia o Luís e encontrei outro Luís que falava de Auster e da sua recente reconciliação com os romances do autor. Paul e os seus personagens cujo inferno nunca são os outros. É o abandono tão bem descrito em “A Música do Acaso”. O muro que vamos construindo à nossa volta numa exasperante obstinação. O muro tapa-nos o caminho, o trilho ciosamente gizado a régua e a esquadro na nossa permanente busca da verdade; torna-nos dependentes das metas há muito delineadas, as quais convencionámos que se tratariam de meras etapas que lograriam alcançar a justiça dos homens, a reparação do dano, a compensação da perda e sim, claro que sim, a punição dos culposamente impunes.
Baixar os braços, tornear o muro, viver como cegos ignorando as falhas dos outros… Essa é a adaptação e talvez a descoberta do quão fascinante o mundo é. Porém, há aqueles que lutam e que continuam a dar socos no ar, nem sequer se apercebendo que a multidão que o rodeava com gritos de alento no início da batalha se desvaneceu dando lugar ao arrepiante silvar do vento moldando as dunas do estéril deserto.
Como dizia Thoreau, o mestre do abandono auto-infligido:
«Nunca encontrei companhia que fosse tão companheira como a solidão. Na maioria das vezes somos mais solitários quando circulamos entre os homens do que quando permanecemos no nosso quarto. Um homem enquanto pensa e trabalha está sempre sozinho, onde quer que esteja.»Henry David Thoreau, Walden ou a vida nos bosques, Antígona, Junho de 1999, pág. 156. [Tradução de Astrid Cabral, com revisão e adaptação de Júlio Henriques] (Walden; or, Life in the Woods; 1854)
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