Intróito
Aproveito o que aqui escrevi no passado dia 16 de Abril, no momento em que havia terminado a leitura do romance em epígrafe.
Dizem que com a idade, principalmente quando se dobra o difícil cabo dos 50, as pessoas ficam mais piegas, mais susceptíveis a estados de comoção, até mais compreensivas e dóceis, com uma certa dose de loucura reminiscente (percebida) e remanescente da juventude (inconsciente).
Ao 10.º romance, damos por nós a lembrar que Auster já não é uma criança, o jovem escritor da Trilogia ou do Palácio da Lua. Falta menos de um ano para Paul completar os seus sessenta anos, precisamente a idade do seu protagonista-narrador, Nathan Glass.
Auster não está melhor, nem pior, está diferente!
Não está diferente na forma de abordar o acaso – eternamente presente na sua obra – e as consequências implacáveis dos pequenos grandes episódios que preenchem a nossa vida. Não está diferente na inclusão do aparentemente insignificante que tudo significa na narrativa. Contudo, está menos sério na substância – e entenda-se aqui por “menos sério” como qualificativo do grau de comicidade –, mais solto e mais arejado, não tão carregado, embora “a miséria humana” permaneça o seu tema central.
Esta obra não exige o mesmo grau de introspecção que romances como «Palácio da Lua», «Timbuktu», «Leviathan» ou mesmo «O Livro das Ilusões» exigem. Não é tão hermético e negro como «A Trilogia de Nova Iorque»; nem tão violento, exasperante e trucidante como «A Música do Acaso».
No entanto, este é o romance mais descaradamente político de Auster. Menciona com amargura os acontecimentos que afectaram de forma marcante os Estados Unidos e que deixaram feridas ainda muito longe de cicatrizar na sociedade americana: as eleições presidenciais de Novembro de 2000 e o famoso imbróglio judicial no Estado da Florida.
Aproveito o que aqui escrevi no passado dia 16 de Abril, no momento em que havia terminado a leitura do romance em epígrafe.
Dizem que com a idade, principalmente quando se dobra o difícil cabo dos 50, as pessoas ficam mais piegas, mais susceptíveis a estados de comoção, até mais compreensivas e dóceis, com uma certa dose de loucura reminiscente (percebida) e remanescente da juventude (inconsciente).
Ao 10.º romance, damos por nós a lembrar que Auster já não é uma criança, o jovem escritor da Trilogia ou do Palácio da Lua. Falta menos de um ano para Paul completar os seus sessenta anos, precisamente a idade do seu protagonista-narrador, Nathan Glass.
Auster não está melhor, nem pior, está diferente!
Não está diferente na forma de abordar o acaso – eternamente presente na sua obra – e as consequências implacáveis dos pequenos grandes episódios que preenchem a nossa vida. Não está diferente na inclusão do aparentemente insignificante que tudo significa na narrativa. Contudo, está menos sério na substância – e entenda-se aqui por “menos sério” como qualificativo do grau de comicidade –, mais solto e mais arejado, não tão carregado, embora “a miséria humana” permaneça o seu tema central.
Esta obra não exige o mesmo grau de introspecção que romances como «Palácio da Lua», «Timbuktu», «Leviathan» ou mesmo «O Livro das Ilusões» exigem. Não é tão hermético e negro como «A Trilogia de Nova Iorque»; nem tão violento, exasperante e trucidante como «A Música do Acaso».
No entanto, este é o romance mais descaradamente político de Auster. Menciona com amargura os acontecimentos que afectaram de forma marcante os Estados Unidos e que deixaram feridas ainda muito longe de cicatrizar na sociedade americana: as eleições presidenciais de Novembro de 2000 e o famoso imbróglio judicial no Estado da Florida.
Para quem desconheça esta faceta, Auster é um activista acérrimo anti-Bush.
O romance termina no dia 11 de Setembro de 2001, em Nova Iorque, passavam poucos minutos das 8 horas da manhã, hora local.
«Eu andava à procura de um sítio sossegado para morrer. Houve alguém que me recomendou Brooklyn, de maneira que, na manhã seguinte, viajei de Westchester até Brooklyn para fazer uma espécie de reconhecimento do terreno. Em cinquenta e seis anos, nunca lá tinha voltado e já não me lembrava de nada. Tinha três anos quando os meus pais deixaram Nova Iorque, mas, instintivamente, senti-me a regressar à zona onde vivêramos, rastejando de volta ao local onde nascera como um cão ferido desejoso de encontrar a sua casa.»
Paul Auster, em As Loucuras de Brooklyn, Asa, 1.ª Edição, Abril de 2006, pág. 7
[Tradução de José Vieira de Lima] (The Brooklyn Follies, 2006)
O romance termina no dia 11 de Setembro de 2001, em Nova Iorque, passavam poucos minutos das 8 horas da manhã, hora local.
«Eu andava à procura de um sítio sossegado para morrer. Houve alguém que me recomendou Brooklyn, de maneira que, na manhã seguinte, viajei de Westchester até Brooklyn para fazer uma espécie de reconhecimento do terreno. Em cinquenta e seis anos, nunca lá tinha voltado e já não me lembrava de nada. Tinha três anos quando os meus pais deixaram Nova Iorque, mas, instintivamente, senti-me a regressar à zona onde vivêramos, rastejando de volta ao local onde nascera como um cão ferido desejoso de encontrar a sua casa.»
Paul Auster, em As Loucuras de Brooklyn, Asa, 1.ª Edição, Abril de 2006, pág. 7
[Tradução de José Vieira de Lima] (The Brooklyn Follies, 2006)
1 comentário:
Este é o que estou a ler... E paro e retomo... E paro e retomo...
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