Não, não é Cronenberg, Tarantino, nem tão-pouco o já artrítico e jubilado Arthur Penn. É Lynch… Jennifer? Realizou Vigilância (Surveillance, 2008), filme que estreou ontem em Portugal, numa quase antestreia mundial. Os outros vê-lo-ão passar pelos cartazes do circuito comercial lá mais para o final do Verão, incluindo um dos dois países de origem da sua produção, os Estados Unidos – no outro, a Alemanha, tal como cá, a estreia deu-se ontem.
O apelido não surgiu por acaso, nem por qualquer combinação cósmica que tivesse ousado conjugar a trama, o excepcional trabalho de actores e a beleza cénica com o realizador de Um Coração Selvagem (Wild at Heart, 1990).
Jennifer (Chambers) Lynch (n. 1968), é filha do realizador norte-americano David Lynch (n. 1946), concebida na sua primeira co-produção matrimonial com a artista plástica Peggy Reavey (Lynch).
Tendo o papá por produtor executivo, Jennifer construiu com inteligência um thriller que certamente irá assombrar as almas mais sensíveis por muitos e bons anos; e não se pense que existe gratuitidade na violência, que com o correr dos metros de celulóide vai ganhando corpo e consistência, não me aventurando, na qualidade de cinéfilo atento ao fenómeno da violência pornográfica nos filmes mais recentes, a sugerir um qualquer retoque, corte ou aditamento. O puzzle compõe-se e tudo permanece encaixado nos seus respectivos lugares. Não há pontas soltas. Bill Pullman: soberbo. Julia Ormond: surpreendente.
O apelido não surgiu por acaso, nem por qualquer combinação cósmica que tivesse ousado conjugar a trama, o excepcional trabalho de actores e a beleza cénica com o realizador de Um Coração Selvagem (Wild at Heart, 1990).
Jennifer (Chambers) Lynch (n. 1968), é filha do realizador norte-americano David Lynch (n. 1946), concebida na sua primeira co-produção matrimonial com a artista plástica Peggy Reavey (Lynch).
Tendo o papá por produtor executivo, Jennifer construiu com inteligência um thriller que certamente irá assombrar as almas mais sensíveis por muitos e bons anos; e não se pense que existe gratuitidade na violência, que com o correr dos metros de celulóide vai ganhando corpo e consistência, não me aventurando, na qualidade de cinéfilo atento ao fenómeno da violência pornográfica nos filmes mais recentes, a sugerir um qualquer retoque, corte ou aditamento. O puzzle compõe-se e tudo permanece encaixado nos seus respectivos lugares. Não há pontas soltas. Bill Pullman: soberbo. Julia Ormond: surpreendente.
Antes deste, Jennifer foi a responsável pelo filme de 1993, tão polémico como grotesco, Paixão Selvagem (Boxing Helena), com Julian Sands e a bimba (um dos meus ódios de estimação do género feminino na 7.ª arte, que no filme em questão ficou tão bem apenas com o torso inviolado, sem que brotasse qualquer vontade rilkiana de especulação metafísica) chamada Sherilyn Fenn.
Mas neste pedaço de obra maior, decorridos que foram quinze anos, o grotesco ganha tons de mestria plástica; a coreografia clássica do horror quase gótico transforma-se num derivado pós-moderno com um toque de génio; e o produto final funciona, por uma perfeita simbiose entre as partes (movimento, luz e linguagem), indispensáveis à fabricação de uma obra cinematográfica digna de apreço – e mesmo que se apure tratar-se de uma obra meramente acessível a um conjunto restrito de espíritos, aos verdadeiros apreciadores de um género de difícil catalogação, que muitos irão incluir no Road Movie com laivos de “série B”, produziu-se arte; e não é essa uma das suas particularidades?
Já não me divertia tanto desde os tempos do miraculoso Cães Danados (Reservoir Dogs) – filme de Quentin Tarantino de 1992; confessando, no entanto, que não me empenhei em demasia para encontrar produtos similares, o que pode fazer perigar a análise por generalização abusiva.
Calo, por agora, a minha escrita para mais não desvendar. Mas, o meu tipicamente entusiasmo púbere jamais me permitiria fechar este texto se não me referisse ao momento em que brindei a grande tela com uma ovação em pé, por vergonha e respeito pelos demais que me acompanhavam na observação do filme, apenas devaneada, embora muito sentida. Um bem engendrado clímax fílmico:
Day after day
I will walk and I will play
but the day after today
I will stop
and I will start my way
Why can't I get just one kiss?
Why can't I get just one kiss?
Believe me,
Somethings I wouldn't miss
But I look at you pants and I need a kiss.
Why can't I get just one screw?
Why can't I get just one screw?
Believe me,
I'd know what to do.
But something won't let me make love to you.
Why can't I get just one fuck?
Why can't I get just one fuck?
I guess it's got something to do with luck
But I've waited my whole life for just one
Mas neste pedaço de obra maior, decorridos que foram quinze anos, o grotesco ganha tons de mestria plástica; a coreografia clássica do horror quase gótico transforma-se num derivado pós-moderno com um toque de génio; e o produto final funciona, por uma perfeita simbiose entre as partes (movimento, luz e linguagem), indispensáveis à fabricação de uma obra cinematográfica digna de apreço – e mesmo que se apure tratar-se de uma obra meramente acessível a um conjunto restrito de espíritos, aos verdadeiros apreciadores de um género de difícil catalogação, que muitos irão incluir no Road Movie com laivos de “série B”, produziu-se arte; e não é essa uma das suas particularidades?
Já não me divertia tanto desde os tempos do miraculoso Cães Danados (Reservoir Dogs) – filme de Quentin Tarantino de 1992; confessando, no entanto, que não me empenhei em demasia para encontrar produtos similares, o que pode fazer perigar a análise por generalização abusiva.
Calo, por agora, a minha escrita para mais não desvendar. Mas, o meu tipicamente entusiasmo púbere jamais me permitiria fechar este texto se não me referisse ao momento em que brindei a grande tela com uma ovação em pé, por vergonha e respeito pelos demais que me acompanhavam na observação do filme, apenas devaneada, embora muito sentida. Um bem engendrado clímax fílmico:
Day after day
I will walk and I will play
but the day after today
I will stop
and I will start my way
Why can't I get just one kiss?
Why can't I get just one kiss?
Believe me,
Somethings I wouldn't miss
But I look at you pants and I need a kiss.
Why can't I get just one screw?
Why can't I get just one screw?
Believe me,
I'd know what to do.
But something won't let me make love to you.
Why can't I get just one fuck?
Why can't I get just one fuck?
I guess it's got something to do with luck
But I've waited my whole life for just one
(...)
Do trio de Milwaukee (Gano, Ritchie & DeLorenzo, que ficarão na coluna do lado direito deste blogue), para o trailer:
Do trio de Milwaukee (Gano, Ritchie & DeLorenzo, que ficarão na coluna do lado direito deste blogue), para o trailer:
«I know who you are.»
Nota: no último Festival de Cannes, a crítica massacrou o filme, apodando-o de um "série B" mal amanhado e de que a sua presença na Selecção Oficial - Competição Principal se deveu, única e exclusivamente, ao nome maior do pai David.
Ah, como eu adoro contrariar estes tipos. E eu que até nem morro de amores pelo pai...
2 comentários:
anotado.
um abraço.
Espero não te desiludir...
Abraço,
André
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