segunda-feira, 30 de junho de 2008

O futeboleiro Presidente

Michel Platini

Quarta-feira, 16 de Maio de 1984. A poucas semanas de completar a minha primeira dúzia de anos a vaguear por este mundo – hoje, já completei três – disputava-se na Suíça um dos jogos mais importantes da história futebolística do meu clube desde a sua fundação (28 de Setembro de 1893 pelo vinicultor e exportador de Vinho do Porto António Nicolau de Almeida): a final da Taça das Taças frente à vecchia signora, o clube de Turim Juventus FC, propriedade de Giovanni Agnelli, principal accionista do império FIAT (Fabbrica Italiana Automobili Torino) que ajudou a fundar.
De um lado a superpoderosa Juventus, do outro os irredutíveis homens de azul e banco – dirigidos interinamente por António Morais, dada a ausência forçada do colossal José Maria Pedroto, na batalha final contra a doença que o iria vitimar em Janeiro de 1985. Esses desconhecidos, de dragão ao peito, acabavam de vergar a outrora colossal equipa escocesa do Aberdeen, treinada por um homem chamado Alex Ferguson, saindo do estádio escocês debaixo dos aplausos em pé dos adeptos adversários, numa demonstração de reconhecimento da superioridade evidenciada por Gomes & Companhia nos dois jogos.

Aos dezasseis dias do mês de Maio, do ano da Graça de mil novecentos e oitenta e quatro, disputou-se no Estádio St. Jacob1, Basileia, a final Taça dos Vencedores das Taças, entre Futebol Clube do Porto (Portugal) e a Juventus Football Club (Itália), arbitrada pelo habilidosíssimo árbitro da extinta República Democrática Alemã (RDA) de seu nome Adolf Prokop.
Alinhamento das equipas2:

  • FC Porto: Zé Beto; João Pinto, Lima Pereira, Eurico e Eduardo Luís; Frasco, Jaime Magalhães, Jaime Pacheco e Sousa; Gomes e Vermelhinho. Jogaram ainda: Costa e Mike Walsh. Treinador: António Morais.
  • Juventus FC: Tacconi; Gentile, Scirea, Brio e Cabrini; Tardelli, Platini, Boninni e Vignola; Boniek e Paolo Rossi. Jogou ainda: Caricola. Treinador: Giovanni Trapattoni.

Resultado: FCP – 1 (Sousa, 29’) / Juventus – 2 (Vignola, 13’; Boniek, 85’)

Do jogo ficou a excelente exibição do meu FCP, manchada por uma arbitragem miseravelmente suspeita (aliás com ecos, à laia de rumor, que se fizeram ouvir pela Europa do futebol sobre a sua nomeação nos dias que antecederam o jogo) – eu, com mais 24 anos em cima, não me recordo de uma arbitragem que se aproximasse deste indecoroso calibre; nem o Bruno Paixão em Campo Maior...
Platini era o n.º 10 da equipa de Turim. A Juve venceu a Taça das Taças com a ajuda de uma arbitragem escandalosa de um senhor do outro lado (o leste, miserável) da cortina de ferro. Durante o jogo, ficaram faltas por marcar dentro e fora da área a favor do meu clube. Boniek (o excelente avançado polaco) aproveitou-se e marca o segundo golo em falta sobre os defesas portistas a cinco minutos do final do jogo. Zé Beto é suspenso pela UEFA durante 1 ano porque no túnel de acesso aos balneários tentou tirar satisfações do árbitro e o fiscal de linha interpondo-se ao conflito verbal acabou por levar um pontapé do irascível e saudoso guarda-redes portista.

Recordo-me, vivamente, de me haver agarrado ao meu irmão e de ter chorado de raiva, enquanto ele, então com 8 anos, perguntava à minha mãe: Mas porquê?

No entanto, acabámos por ficar com a Taça exposta no museu dos troféus conquistados. Numa demonstração inequívoca de amor ao clube, os sócios juntaram-se e arrecadaram o dinheiro necessário para construir uma réplica da dita taça e ofereceram-na ao FCP, como acto simbólico de reposição da justiça que faltou, que apaziguou a revolta que ainda vivia nos corações de todos os adeptos.

Por onde andavas Michel Platini? O homem que hoje se arroga das transparência e lealdade desportivas.
É um futeboleiro. Nunca deixou de o ser. Não se enganem. É por falar francês? Língua que, aos nossos ouvidos terceiro-mundistas, pela fonética lhe empresta um certo ar imperial, superior e afectado.
Platini fala do que desconhece na íntegra. Aparentemente, serve de mero ventríloquo das opiniões de alguém que as fez soprar ao ouvido, desautorizando a instâncias jurídicas e disciplinares do organismo máximo que superintende. Hoje, por exemplo, houve o encerramento definitivo de parte de um dos dois processos (o do Estrela da Amadora)…
E depois, M. Platini?

Notas:

  1. O amnésico-lacunar Valdemar Duarte da TVI, que a propósito de tudo e de nada se referia a qualquer incursão benfiquista, antiga ou recente, por terras austríacas e helvéticas – não se pôde, no entanto, furtar à referência do calcanhar de Madjer e eventos conexos no agora Ernst Happel, outrora apenas Praterstadion, que recebeu a final do Euro 2008 – esqueceu-se, que eu saiba, de mencionar a célebre final de Basileia em 1984. St. Jacob era um dos estádios do Europeu deste ano, tendo recebido inclusivamente um dos quatro jogos da selecção nacional.
  2. A constituição das equipas foi retirada do livro de Rémulo Jónatas e Bernardino Barros, Mui Nobre e Sempre Invicto Clube do Porto (Parede, Prime Books, 1.ª ed., pág. 44).

1 comentário:

Unknown disse...

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