Recordo-me bem da minha ida ao cinema para ver África Minha. Arrastado pelo meu pai, suponho que ao defunto Estúdio Foco, que tentava cultivar as minhas preferências cinematográficas, especialmente numa altura em que, de forma impotente, procurava monitorizar os filmes que chegavam encobertos pela capa standard do clube de vídeo a minha casa: John Carpenter, acima de tudo e a suas parecerias com Debra Hill, e depois Wes Craven, Brian De Palma, Sam Raimi, Cronenberg, disfarçados com Ivory, Forman, Lean, Huston, de que gostava, mas em quem preferia poupar os meus parcos recursos.
Ver África Minha foi, por tudo isso, uma experiência traumatizante. Era um filme sobre uma tontinha em paisagens hipoteticamente deslumbrantes – a minha agulha estética estava longe desse pólo da beleza majestática e contemplativa, com fotografia a cargo do britânico, recentemente desaparecido, David Watkin e uma banda sonora original do bondiano John Barry –; sim, uma tontinha armada em independente que se perde de amores por um caçador errante nas colinas de África.
Em 2000 fui viver para Madrid, e resolvi completar a minha videoteca, a preços de saldo – por essa altura os DVD’s em Espanha, para além do número incomensuravelmente maior de títulos à disposição do público, custavam cerca de metade do preço praticado em Portugal. Comprei dezenas de títulos, com o único senão de a capa expor os títulos atribuídos pelos espanhóis, na maioria das vezes, grotescos, como por exemplo o maravilhoso filme do Mestre Hitchcock North by Northwest (1959) como Con la muerte en los talones; ou como o filme de 1980 de John Landis The Blues Brothers como Granujas a todo ritmo.
Comprei o África Minha (Out of Africa, 1985) ou o Memorias de África (ver imagem), e com vinte e oito anos – já há muito tinham passado os imberbes catorze de 1986 no Estúdio Foco – aprendi a apreciar a beleza que se me havia escondido nos anos oitenta, corporizada na harmonia imagética, fílmica e musical que Pollack conseguiu transmitir com a sua obra-prima e que, de facto, como diz o Luís Miguel Oliveira encantou meio-mundo – não a sua metade de mundo –, tal como a Academia de Hollywood (que lhe atribuiu 7 Óscares) – talvez, se trate do tal cinema filmado, como refere o Luís Miguel, mas então o que seria de gente como James Ivory, e principalmente de David Lean?
Ver África Minha foi, por tudo isso, uma experiência traumatizante. Era um filme sobre uma tontinha em paisagens hipoteticamente deslumbrantes – a minha agulha estética estava longe desse pólo da beleza majestática e contemplativa, com fotografia a cargo do britânico, recentemente desaparecido, David Watkin e uma banda sonora original do bondiano John Barry –; sim, uma tontinha armada em independente que se perde de amores por um caçador errante nas colinas de África.
Em 2000 fui viver para Madrid, e resolvi completar a minha videoteca, a preços de saldo – por essa altura os DVD’s em Espanha, para além do número incomensuravelmente maior de títulos à disposição do público, custavam cerca de metade do preço praticado em Portugal. Comprei dezenas de títulos, com o único senão de a capa expor os títulos atribuídos pelos espanhóis, na maioria das vezes, grotescos, como por exemplo o maravilhoso filme do Mestre Hitchcock North by Northwest (1959) como Con la muerte en los talones; ou como o filme de 1980 de John Landis The Blues Brothers como Granujas a todo ritmo.
Comprei o África Minha (Out of Africa, 1985) ou o Memorias de África (ver imagem), e com vinte e oito anos – já há muito tinham passado os imberbes catorze de 1986 no Estúdio Foco – aprendi a apreciar a beleza que se me havia escondido nos anos oitenta, corporizada na harmonia imagética, fílmica e musical que Pollack conseguiu transmitir com a sua obra-prima e que, de facto, como diz o Luís Miguel Oliveira encantou meio-mundo – não a sua metade de mundo –, tal como a Academia de Hollywood (que lhe atribuiu 7 Óscares) – talvez, se trate do tal cinema filmado, como refere o Luís Miguel, mas então o que seria de gente como James Ivory, e principalmente de David Lean?
Foi então que saí da minha irredutibilidade, vislumbrei a bruma que se levantava como a neblina húmida de uma manhã fria de Primavera e olhei para o outro lado, de onde o meu pai e o seu meio-mundo saía das ostras a que os havia votado uns anos antes, ao som de John Barry, culminando com o 2.º andamento (Adágio) do Concerto para clarinete em Lá maior (K.622) composto pelo divino Wolfgang Amadeus Mozart a pouco menos de dois meses de ocorrer a maior tragédia de sempre para a Música, a sua morte aos 35 anos, em 5 de Dezembro de 1791:
Wolfgang Amadeus Mozart - Concerto para clarinete em Lá Maior (K.622) - 2. Adagio
(uma amostra a 96 kbps, com o solo de clarinete de Sabine Meyer e a Filarmónica de Berlim, dirigida por Claudio Abbado).
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