sábado, 7 de junho de 2008

Volodya, de novo

Vladimir NabokovEnquanto Dmitri filho único de Vladimir Nabokov (1899-1977) anda, em letras de imprensa, a distrair meio mundo literário com a fábula dos manuscritos encerrados no cofre-forte de um banco suíço que só pode ser aberto pela combinação de chaves detidas por duas pessoas – qual trama browniana. Vão, estranhamente, surgindo uns dispersos do ilustre pai, escritos originalmente em russo e posteriormente traduzidos pelo filho – ou seja, manuscritos provavelmente com data anterior ao início da década de 40 do século passado, altura a partir da qual Nabokov, já nos Estados Unidos, passou a escrever exclusivamente em inglês.
Desta feita, surgiu do nada, no número desta semana da revista norte-americana The New Yorker (de 9 a 16 de Junho de 2008) um conto inédito do eminente escritor russo-americano intitulado “Natasha”.
Enquanto nada sai sobre o alegado romance inacabado The Original of Laura, depois de Lolita (1955) e de O Encantador (Volshebnik, 1939; publicado postumamente em 1985 por Dmitri sob o título The Enchanter, como uma versão, em forma de novela, mais punitiva de Lolita; a mácula da pederastia contribui para o desfecho trágico do perpetrador, dando-se a redenção da ninfeta sem nome), surge-nos agora “Natasha” provavelmente escrito em 1925.
Alguém me consegue explicar, para além de uma provável cupidez, o que anda Dmitri a fazer com o espólio de seu pai? Seguramente, a par de Borges, o melhor escritor dos 2.º e 3.º quartéis do século XX, e um dos melhores escritores de todos os tempos?

Eis as primeiras palavras do conto:

«On the stairs Natasha ran into her neighbor from across the hall, Baron Wolfe. He was somewhat laboriously ascending the bare wooden steps, caressing the bannister with his hand and whistling softly through his teeth.
“Where are you off to in such a hurry, Natasha?”
“To the drugstore to get a prescription filled. The doctor was just here. Father is better.”
“Ah, that’s good news.”
She flitted past in her rustling raincoat, hatless.
Leaning over the bannister, Wolfe glanced back at her. For an instant he caught sight from overhead of the sleek, girlish part in her hair. Still whistling, he climbed to the top floor, threw his rain-soaked briefcase on the bed, then thoroughly and satisfyingly washed and dried his hands.
[…]»

(versão completa aqui)

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