domingo, 3 de dezembro de 2006

Corre, Coelho!

Este título assentar-lhe-ia tão bem, pelo previsível desfecho – inconclusivo – dos trabalhos da comissão especial do Parlamento Europeu sobre os alegados voos da CIA sobre território europeu. Porém, não é disso que se trata.
Em Novembro último, uma boa notícia agitou o tipicamente acabrunhado panorama editorial português no domínio da tradução de obras literárias estrangeiras: a Civilização Editora irá editar em Portugal o primeiro livro da tetralogia sobre o personagem Harry “Rabbit” Angstrom, Rabbit, Run escrito por John Updike e publicado originalmente em 1960.
A sua edição em Portugal na língua de Camões não é uma novidade. Em 1965 a Europa-América publicou “Corre, Coelho: romance” traduzido pela insigne poetisa, dramaturga e prosadora Fiama Hasse Pais Brandão, livro que foi prontamente censurado pela Ditadura. Segundo o relato de José Brandão a limpeza ideológica às editoras teve um novo clímax proibicionista em 14 de Junho de 1965, de «uma só vez, a editora Europa-América teve 73 mil livros apreendidos e 23 títulos proibidos», entre os quais constava o de Updike.

A tetralogia*:

  • Rabbit, Run (1960);
  • Rabbit Redux (1971);
  • Rabbit Is Rich (1981) – vencedor do Pulitzer Prize (ficção) em 1982;
  • Rabbit At Rest (1990) – vencedor do Pulitzer Prize (ficção) em 1991.



Em 2001, Updike publica um livro de contos (Licks of Love: Short Stories and a Sequel, "Rabbit Remembered"), onde se inclui sob a forma de epílogo, a novela “Rabbit Remembered” versando sobre os despojos e as consequências terrenas da vida do indomável Harry “Rabbit” Angstrom entretanto falecido.

*Esta tetralogia como um todo, foi eleita como uma das melhores obras de ficção americana dos últimos 25 anos pelo The New York Times Book Review, a par de obras como “UnderworldDon DeLillo (não editado em Portugal), “Pastoral Americana” de Philip Roth e “Meridiano de Sangue ou o Crepúsculo Vermelho no Oeste” de Cormac McCarthy.

Entre as obras editadas no mercado português destacam-se S., O Centauro, Brasil, o inevitável romance As Bruxas de Eastwick, Uma Questão de Confiança, o excelente – sendo, sem dúvida, um dos livros do ano – O Terrorista (editado em Portugal em Novembro passado pela Civilização) e o sísmico Casais Trocados, cuja publicação conseguiu abalar os frágeis alicerces da presumidamente modelar e conservadora estrutura familiar dos Estados Unidos nos finais da década de 60. Casais Trocados (Couples, 1968) valeu a Updike a capa da revista Time em 26 de Abril de 1968, sob o título The Adulterous Society.

John Updike, nasceu em Reading, no Estado da Pennsylvania a 18 de Março de 1932.
Para quando o Nobel da Literatura?

(sugestão da casa: John, filia-te num PC qualquer e faz muito barulho, sem substância concretizadora – por isso ruído –, pelos direitos humanos e depois do galardão confessa qualquer coisa como uma breve militância no KKK ou então uma episódica, e felizmente curada, simpatia pelo Benfica).

2 comentários:

Anónimo disse...

Ainda bem que estás de volta. Vou dar notícia. Abraço

Anónimo disse...

Obrigado, meu caro Pedro.
Apesar da ausência nunca te perdi de vista. Como sabes és um dos meus bloggers preferidos. Adorei a tua série sobre os contistas.
Um abraço,
AMC