segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Do miasma

[breve interlúdio na sequência de textos ordenados em numeração romana]

Hoje é um dia triste, e não se julgue que a causa, por via imediata, esteve na infeliz circunstância de o meu Porto haver sofrido por terras do Visconde a segunda derrota no campeonato – ganhou em atitude, segundo o filósofo Prof. Jesualdo, e com atitude pagarei a minhas quotas se o espectáculo de falhanços clamorosos, com ou sem Xistra, se repetir.
Como já referi sou um sofredor pelas mágoas do mundo, pela dor que comigo se cruza diariamente nos passeios da vida – cenhos franzidos, corpos mirrados, uma criança sozinha, indiferente, que ignora a pomba que a seu lado voa levando no bico o ramo de oliveira da paz entre os homens –, em suma, pela miséria ou infortúnio de se ser português. Porém, hoje, quando acordei para mais uma jornada, decerto pungente, neste vale de lágrimas, senti na boca o gosto a ferro da ressaca por um par de dias dos mais negros deste ainda imberbe 2008. Pensei em Pacheco Pereira, triste, isolado a um canto escuro e bafiento onde apenas se escutam as gotas de humidade a embater em solo duro e, no entanto, alagadiço e viscoso, carpindo, lamentando a derrota que o seu indisfarçável portismo agudizou – JPP é portista, não sabiam? O seu amor pelo Porto (todas as acepções permitidas) é inesgotável, da sua casa no antigo Carlton (agora Pestana)… ah, é um hotel… adiante.
Enquanto o seu grande amigo, o Querido Líder da Invicta, dá
sinais evidentes de que, em breve, se mudará a contragosto de malas e bagagens para Lisboa (Deus, ou alguém ou algo por Ele, o guarde aí em baixo por muitos anos) a pedido da imprensa e da blogosfera da Capital, atente-se nos seus hossanas diários, Pacheco Pereira anda distraído a brincar ao “São João Baptista” (até porque é o padroeiro da sua tão amada e inesquecível cidade), com a Cofina, Pinhão & Botelho, Carolina e com a elite fozeira Veiga e Aguiar Branco, abrindo os caminhos para a triunfal chegada do senhor, pondo de lado a “Teoria do Milieu” – ambiente miasmático em que tudo se passa – e o seu principal arquitecto JNPC, depois dos homicídios de Rio de Mouro e dos gangues que, a fazer fé nos relatos de residentes com identidade protegida, todos os dias aterrorizam a população, ou das facadas em Guimarães e dos anódinos very lights.
JPP pôs literalmente as barbas de molho, a vice-presidência chegará em breve, entretanto toca a “botar faladura” (como se sói dizer cá por cima) nos inúmeros meios de comunicação que lhe dão voz – ad nauseam.

4 comentários:

Anónimo disse...

André
Sou do Sporting, e em relação ao primeiro parágrafo só te posso dizer o seguinte: " Que banho de bola nós levamos" ... Há muito, muito tempo que não assistia a um jogo tão desequilibrado e com um resultado que espelhe tão pouco o que se passou. Fosse o Futebol como a patinagem artística com notas técnicas e artísticas e tinha sido uma verdadeira "cabazada" ...

Anónimo disse...

OK, Fernando, mas onde andam os 3 pontos? Eu só digo que o treinador (Jesualdo) não se pode acomodar (como parece haver-se acomodado, pelas declarações proferidas) com o rematámos muito, tivemos uma grande atitude, etc. Este país está cheio das vitórias morais. Se o meu FCP jogou tão bem devia ter ganhado, mas falhou.
Logo, o teu Sporting, Fernando, foi um justo vencedor (independentemente de possíveis erros de arbitragem). Que entre nós, numa conversa de café ou nos nossos blogues, comentemos a putativa justiça (ou injustiça) do resultado, é uma coisa, somos apenas amantes fervorosos do espectáculo. Agora que o Jesualdo se refugie nisso, como que a eximir-se de responsabilidades, acho deplorável para um profissional que ganha centenas de milhares de euros por ano.
Pronto, de resto, houve quem ficasse feliz cá em casa... a minha mulher é sportinguista. :)
Um abraço

Anónimo disse...

Por acaso esse é um excelente tema "filosófico". Quero dizer com isto o resultado é importante não o nego, mas o caminho que percorremos para o obter não o será também? Não será que um caminho errado desvaloriza o atingir do objectivo? Sempre me ensinaram que o fim não justifica os meios ... Não sou adepto das vitórias morais longe disso mas acho que a honra, a atitude os caminhos que escolhemos são tão importantes como os objectivos que nos fixamos. E não, não estou apenas a falar de futebol :-) Por isso te digo, o discurso do Jesualdo até me agradou. Um abraço desportivo para ti e saudações leoninas para a tua esposa :-)

Anónimo disse...

Fernando,
Estou de acordo com o que disseste.
A luta contra o arrivismo (de todo o género) é um dos meus cavalos de batalha, e como sou teimoso, apesar das cabeçadas e dos pontapés que tenho levado, continuarei a combatê-lo para o erradicar da minha esfera de influência.
Pronto, fui resultadista, mas no futebol perco alguma da minha (parca) racionalidade...
Abraço