terça-feira, 13 de março de 2007

O Mestre é…

Henry James.
A primeira década do século XXI foi fértil em obras de ficção que, de forma directa ou indirecta, se debruçaram sobre um dos maiores estetas literários de todos os tempos.
O maior destaque vai não só para a obra de Allan Hollinghurst, A Linha da Beleza (The Line of Beauty, 2004) – vencedor do Booker Prize em 2004 e que se centra na existência atribulada do jovem plebeu e homossexual Nick Guest pelos meandros da frívola aristocracia e da corrompida classe política britânicas, enquanto trabalha na sua tese de doutoramento sobre Henry James –, como também, e de forma mais directa, pelas obras Autor, Autor (Author, Author; 2004) do truculento David Lodge e de O Mestre (The Master, 2004) do escritor irlandês Colm Tóibín, que lhe permitiu vencer o cobiçado IMPAC Dublin Literary Award em 2006 – em termos monetários, é o maior prémio do mundo a distinguir uma obra literária de ficção que, desde a sua criação em 1996, já galardoou romances de escritores como Michel Houellebecq, Orhan Pamuk, David Malouf ou Javier Marías.
Decorridos quase três anos (1060 dias) após a sua primeira publicação em língua inglesa, O Mestre de Colm Tóibín foi finalmente editado em português de Portugal, sob a chancela da Dom Quixote.

Na Ípsilon do
Público de sexta-feira passada há um excelente e extenso artigo, escrito por Luís Miguel Queirós sob o título “Diabruras do fantasma de Henry James”, que relata a recente febre Jamesiana na literatura contemporânea e em particular um curioso conflito entre Tóibín e Lodge a propósito da publicação das suas obras com Henry James como protagonista.

Para finalizar, nada como as palavras de um Mestre sobre outro Mestre, sobre alguma incompreensão do público e da crítica reinante perante a subtileza dos personagens e dos finais abertos que abundam na obra do escritor anglo-americano e na recusa daqueles pelo mundo das sombras em detrimento da realidade substancial. Joseph Conrad discorre sobre a permanente busca do público pelo desenlace, pelo fim da história, pelo descanso após o encerramento do livro e a constatada impossibilidade dessa demanda na genialidade da obra de James e dos seus personagens que imitam a vida, deixando os seus leitores em permanente sobressalto.
Conrad chega a afirmar: «Por que motivo o público leitor, que, como um todo, nunca conferiu ao contador de histórias o poder de ser um artista, lhe deve exigir a presunção da Divina Omnipotência, é algo absolutamente incompreensível.» [tradução livre: AMC]

A ler: Joseph Conrad, “Henry James – An Appreciation – 1905”, Notes on Life and Letters, 1921 (Part I – Letters; textos editados por J. H. Stape)

2 comentários:

Anónimo disse...

Quase aforisticamente, que o tempo não é muito: o livro do Colm Tóbín é bom, o do Lodge é uma desgraça (péssimo beyond belief).
Mas onde James respira é mesmo no Line of Beauty, uma das melhores coisas que li nos últimos anos.

Anónimo disse...

Comprei o de Lodge mal foi editado pela Asa, comecei a lê-lo mas ainda repousa na estante com um marcador embutido (escusado será dizer que terei de começar da 1.ª página). Aliás, tenho, na estante, meia dúzia de livros dele que permanecem virgens. O homem aborrece-me com aquele ar de sátiro, mas que transpira sobranceria (parece estar sempre a dizer: eu é que percebo desta merda!). Por exemplo, Amis é um snob, sempre com aquela fleuma tão típica, mas não destoa.
Ainda não comprei o novo (só em Portugal!) de Toíbin, fá-lo-ei ainda esta semana. Lá está um escritor que admiro.
A Linha da Beleza de Hollinghurst (o sósia do Francisco José Viegas) foi dos melhores livros que li em 2005. Aliás como referi no falecido blogue naqueles balanços de final de ano.