Já aqui se falou sobre as listas de Verão para leitores estivais e misobíblios, ou se se preferir utilize-se um termo existente como bibliófobos, no resto do ano.
A lista de Verão do Expresso (sem ligação disponível) gerou alguma controvérsia, embora pequena dada a menorização dos assuntos literários perante outros mais candentes. A este propósito, o Eduardo Pitta chegou a demonstrar a sua estranheza perante a publicação das recomendações literárias para a praia sem que se dessem a conhecer os notáveis conselheiros, refugiando-se o semanário na designação colectiva “críticos literários do jornal”.
Porém, deixando-me de tergiversações e de afastamentos do cerne deste texto, o Eduardo Pitta considerou a temporada de edição literária em Portugal de “Outubro 2005 / Julho 2006” como “uma das mais ricas e estimulantes dos últimos anos”. Não podia estar mais de acordo, não só pelos 10 autores listados no mesmo artigo pelo Eduardo, como por outras obras de outros autores que, entretanto, saíram para o mercado.
A lista de Verão do Expresso (sem ligação disponível) gerou alguma controvérsia, embora pequena dada a menorização dos assuntos literários perante outros mais candentes. A este propósito, o Eduardo Pitta chegou a demonstrar a sua estranheza perante a publicação das recomendações literárias para a praia sem que se dessem a conhecer os notáveis conselheiros, refugiando-se o semanário na designação colectiva “críticos literários do jornal”.
Porém, deixando-me de tergiversações e de afastamentos do cerne deste texto, o Eduardo Pitta considerou a temporada de edição literária em Portugal de “Outubro 2005 / Julho 2006” como “uma das mais ricas e estimulantes dos últimos anos”. Não podia estar mais de acordo, não só pelos 10 autores listados no mesmo artigo pelo Eduardo, como por outras obras de outros autores que, entretanto, saíram para o mercado.
Tash Aw, taiwanês de nascença, porém malaio de origens, mudou-se para Inglaterra na sua adolescência onde actualmente vive.
Com 32 anos (em 2005) publicou o seu primeiro romance “The Harmony Silk Factory”, agora editado em português pela Difel como “A Fábrica das Sedas”.
Com este romance Aw arrecadou logo à partida cerca de 5,2 milhões de euros (cerca de 1 milhão e 40 mil contos) em royalties. Venceu o Whitbread Award para 1.º romance, o BookSense e foi finalista (longlist, 17 obras, entre as quais constavam obras de autores como John Banville – vencedor do prémio –, Ali Smith, Ishiguro, McEwan, Rushdie, Julian Barnes, Zadie Smith e Coetzee) do Booker Prize em 2005.
A Fábrica das Sedas é uma extensa narrativa sobre a vida atribulada de Johnny Lim, chinês de ascendência que desde sempre viveu na Malásia, durante a II Guerra Mundial, perante a ameaça e a efectivação da invasão japonesa e o domínio e a exploração britânicos.
Aw demonstra todo o seu virtuosismo na manipulação da extensa gama das faculdades narrativas. Para um estreante considero notável a dissimilitude das três vozes que narram cada uma das três partes que constituem o romance, demonstrando os seus pontos de vista díspares sobre a mesma ocorrência: Aw consegue ser um homem de meia-idade amargurado com o passado sombrio do seu pai; uma jovem mulher mimada, rica e aristocrática malaia que se aventura num casamento com um homem humilde e estranho; e, por último, um velho inglês enclausurado dentro de si mesmo, azedo, obstinado e diletante que se deixou vencer pelas duras rememorações de um passado de conflito entre a paixão arrebatadora e a amizade na sua forma mais pura.
É um romance de leitura fácil e um autêntico page-turner, porém exige atenção, cuidado e degustação como um bom Porto velho e sedoso.
De leitura imprescindível.
Nota: a parte menos positiva do romance será, porventura, a tradução a cargo de Maria Isabel Veríssimo. Já por diversas vezes aqui referi que o papel do tradutor deverá ser neutro e não interventivo, sob pena de modificar, mesmo que sem intenção, a história que se pretende traduzir. Esse trabalho abarca – quanto a mim na minha visão de leigo – a expurgação de qualquer tipo de maneirismos e de tiques de linguagem ostentadores de alguns atavismos ou de um elitismo saloio. Por exemplo, não me repugna que se diga “o pai disse” em vez de “o meu pai disse”, ou até – conquanto no limite do aceitável – “imperial” em vez “cerveja”. Porém, o uso excessivo da expressão “encarnado” em detrimento do portuguesmente correcto “vermelho” é assaz irritante e distrai, de forma quase irreparável, a nossa leitura. Embora seja aceitável, e porventura mais fiel, que se traduza do inglês a palavra “scarlet” por “encarnado” em vez de “escarlate”, são sinónimas para “vermelho vivo” – vide a fabulosa tradução da obra magistral “The Scarlet Letter” de Nathaniel Hawthorne, pelo nosso ilustre e genial Fernando Pessoa para “A Letra Encarnada”.
Referência bibliográfica completa:
Tash Aw, A Fábrica das Sedas, Difel, 1.ª edição, Junho de 2006, 415 pp. [Tradução de Maria Isabel Veríssimo] (Obra Original: The Harmony Silk Factory, 2005).
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