Num domingo, deveria ter uns nove ou dez anos, aceitei o convite e acompanhei um primo – recentemente meu tio, resquício da ancestral endogamia familiar – numa viagem à sua quinta situada nas aprazíveis Terras de Basto.
Foi uma tentativa de viagem às origens que pude perscrutar através das sapientes frases desamarradas pelo meu tio, à guisa de guia turístico, falando-me de Celorico do século XIX – ainda sem a Biblioteca Marcelo Rebelo de Sousa – onde nasceu e medrou, até à maioridade, o meu avô, que sempre elegeu o Porto e o Alto Douro como as suas verdadeiras paixões.
Naquele dia, antes do regresso, jantámos no centro de Celorico de Basto num restaurante típico da região. Enquanto esperávamos pelo jantar, na mesa ao lado estava sentado um senhor com os seus noventa anos, vestido de fato completo cinza antracite, de rosto anguloso e de nariz afilado que lhe conferia um ar de fidalgo, decerto protótipo inspirador dos romances de Júlio Dinis ou de Camilo – lembrei-me do meu avô que acabara de falecer com noventa e dois anos.
Cumprimentou o meu tio que de pronto me apresentou ao velho sábio – como viria a descobrir de seguida – falando dos inevitáveis atavismos que pintaram o rosto do velho de admiração e de saudade. Há tanto tempo… Ah, o seu avô…! Cavalheirismo, nobreza de carácter, postura, sabedoria, tudo serviu para qualificar, o que hoje se chamaria de empreendedor, um homem que, como morgado e com dezoito anos, deixou uma pequena fortuna às irmãs e que se aventurou na depauperada propriedade da família no coração do Paiz Vinhateiro – Peso da Régua, Douro.
Ao fim de um quarto de hora de tão douta palestra – que eu recebia embevecida e gratamente –, o velho sábio falou-me dos lobos e do inextricável instinto feroz e selvagem mesmo que criado junto do homem desde o seu nascimento. E disse-me: o lobo, mais cedo ou mais tarde, recidiva! Sabes o que é?
Não, não sabia. Porém, jamais me esquecerei da parábola que o velho sábio me quis contar, a qual passei a aplicar livremente a qualquer situação do quotidiano… tão humano!
A sua aplicabilidade é tão vasta que, neste momento, enquanto escrevo este texto, estou a recidivar. Tentei... Que não me censurem.
No sábado resolvi pôr fim ao blogue – sem o anunciar, não fosse arrepender-me, o que era já de si um excelente prognóstico! – que, tal como um vício – apesar de alguns benefícios catárticos que higienizam a psique –, tem os seus evidentes malefícios, rouba-nos tempo, embora o dêmos por bem empregue quando há interactividade, reciprocidade… enfim, uma palavra amiga que se envia de inúmeras maneiras na era do digital.
Hoje, recidivei! Não consegui… Acho que nasci para exteriorizar os meus impulsos, as minhas angústias, danações e atribulações – e há quem me critique por isso!
Ontem, em jeito de frequentador dos Blogólicos Anónimos, dei por mim a contar: dois dias sem bloga… porém, mudei a música na grafonola! Isso conta!?
Foi uma tentativa de viagem às origens que pude perscrutar através das sapientes frases desamarradas pelo meu tio, à guisa de guia turístico, falando-me de Celorico do século XIX – ainda sem a Biblioteca Marcelo Rebelo de Sousa – onde nasceu e medrou, até à maioridade, o meu avô, que sempre elegeu o Porto e o Alto Douro como as suas verdadeiras paixões.
Naquele dia, antes do regresso, jantámos no centro de Celorico de Basto num restaurante típico da região. Enquanto esperávamos pelo jantar, na mesa ao lado estava sentado um senhor com os seus noventa anos, vestido de fato completo cinza antracite, de rosto anguloso e de nariz afilado que lhe conferia um ar de fidalgo, decerto protótipo inspirador dos romances de Júlio Dinis ou de Camilo – lembrei-me do meu avô que acabara de falecer com noventa e dois anos.
Cumprimentou o meu tio que de pronto me apresentou ao velho sábio – como viria a descobrir de seguida – falando dos inevitáveis atavismos que pintaram o rosto do velho de admiração e de saudade. Há tanto tempo… Ah, o seu avô…! Cavalheirismo, nobreza de carácter, postura, sabedoria, tudo serviu para qualificar, o que hoje se chamaria de empreendedor, um homem que, como morgado e com dezoito anos, deixou uma pequena fortuna às irmãs e que se aventurou na depauperada propriedade da família no coração do Paiz Vinhateiro – Peso da Régua, Douro.
Ao fim de um quarto de hora de tão douta palestra – que eu recebia embevecida e gratamente –, o velho sábio falou-me dos lobos e do inextricável instinto feroz e selvagem mesmo que criado junto do homem desde o seu nascimento. E disse-me: o lobo, mais cedo ou mais tarde, recidiva! Sabes o que é?
Não, não sabia. Porém, jamais me esquecerei da parábola que o velho sábio me quis contar, a qual passei a aplicar livremente a qualquer situação do quotidiano… tão humano!
A sua aplicabilidade é tão vasta que, neste momento, enquanto escrevo este texto, estou a recidivar. Tentei... Que não me censurem.
No sábado resolvi pôr fim ao blogue – sem o anunciar, não fosse arrepender-me, o que era já de si um excelente prognóstico! – que, tal como um vício – apesar de alguns benefícios catárticos que higienizam a psique –, tem os seus evidentes malefícios, rouba-nos tempo, embora o dêmos por bem empregue quando há interactividade, reciprocidade… enfim, uma palavra amiga que se envia de inúmeras maneiras na era do digital.
Hoje, recidivei! Não consegui… Acho que nasci para exteriorizar os meus impulsos, as minhas angústias, danações e atribulações – e há quem me critique por isso!
Ontem, em jeito de frequentador dos Blogólicos Anónimos, dei por mim a contar: dois dias sem bloga… porém, mudei a música na grafonola! Isso conta!?
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