sábado, 12 de agosto de 2006

Frases iniciais exemplares (versão beta #9)

Quando aqui publiquei a lista compilada pela American Book Review com as frases de abertura de romances classificadas nos cinco primeiros lugares, no âmbito de um exercício meramente recreativo levado a cabo pela dita revista – sem pretensões científicas ou de doutrinação estética literária –, havia previamente referido, em texto anterior, o processo que acompanhou a sua construção.
Embora este tipo de listas funcione como um mero indicador, sem que daí se retire uma cartilha que permita construir o arquétipo do bom leitor, não há nada na sua característica meramente indicativa que nos impeça o livre exercício de opinião e de crítica valorativa. Aliás, julgo até tratar-se de um exercício salutar, assaz democrático, para a pretendida interactividade na nossa blogosfera.
Assim, o Pedro Correia
referiu e muito bem a discutibilidade das opções do grupo avaliador da ABR ao colocar, por exemplo, em primeiro lugar a frase inicial da obra de Herman MelvilleMoby Dick” e esquecer-se por completo de incluir uma das frases iniciais mais memoráveis da história da literatura, a de Franz Kafka no conto dos contos (ou novela das novelas) “A Metamorfose”. Não se trata de um esquecimento negligente ou até deliberado do autor checo, uma vez que a frase inicial de O Processo consta da lista (13.ª classificada), e só se pode entender pelo critério formal estabelecido de só se considerar elegível a obra ficcional sob a forma de romance (ou seja, contos e novelas foram excluídos à partida).
Em abono da verdade, a frase de abertura de A Metamorfose já constava da minha lista em versão Beta (ou se quiserem apócrifa, sob o estrito ponto de vista da minha autoridade em matéria literária) de frases exemplares iniciais, a qual já contou com a exemplar colaboração de dois dos meus dilectos bloguistas: o Pedro Correia do
Corta-Fitas (frase #5Vergílio Ferreira) e o Pedro Vieira do irmaolucia (frase #7Eduardo Mendonza).
Cá fico à espera de mais contributos.

«Certa manhã, ao acordar após sonhos agitados, Gregor Samsa viu-se na sua cama, metamorfoseado num monstruoso insecto.»
Franz Kafka, A Metamorfose

(Guimarães, Março de 2000, pág. 9; Tradução de João Crisóstomo Gasco; Obra Original: Die Verwandlung, 1915)

Notas:
(1) As frases são publicadas numa base sistemática neste ficheiro do blogue filial Data.
(2) Cerca de 40 frases que constam da lista de 100 da ABR serão, em breve, aqui publicadas.

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